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14. Camaripa


O Sapateiro

Eu moldo o couro do viés e dos conceitos
ao redor da compaixão e vacuidade.
E, então, com a agulha do discernimento,
costuro a existência sem nascimento ou morte
Totalmente livre das oito preocupações comuns,
Eu produzo o excelente sapato do darmakaya espontaneamente realizado.

Na cidade de Visnunagar havia dezoito castas de artesões, sendo que o humilde Camaripa pertencia à casta dos sapateiros. Ele trabalhava incansavelmente, vendendo sapatos novos e consertando os velhos. Todo dia ele sonhava acortado, “eu não nasci para ser sapateiro a vida toda.”

Certo dia, quando ele já estava bem deprimido com sua vida, ele ergueu os olhos do trabalho a sua frente bem no momento em que um iogue por acaso passava. Imediatamente Camaripa largou as ferramentas, colocou-se aos pés do homem santo, e falou com ele diendo, “Eu sempre quis praticar o caminho do Buda. Porém, como até agora não encontrei um professor, ainda não consegui nem mesmo tomar refúgio. Por favor, venerável, ensine o darma para o meu benefício nesta e em vidas futuras.”

O iogue respondeu, “Se você acha que consegue praticar uma sadhana, eu o ensinarei.”

“Ah, sim, sem dúvida, eu quero praticar o darma” respondeu feliz o sapateiro. “Venha fazer uma refeição conosco em nossa casinha humilde!” ele suplicou.

“Eu vou sim, mas chego no fim da tarde.”

O sapateiro correu para casa para contar a novidade para sua esposa e filhas, e eles imediatamente começaram a limpar a casa e cozinhar, fazendo tudo tão bem quanto as possibilidades humildes deles permitiam. Quando o iogue chegou à casa do sapateiro, tudo estava pronto.

Com o maior respeito, o sapateiro dispôs um assento elevado para o iogue, e lavou seus pés. Um banquete humilde foi servido, e o convidado partilhou dele com grande deleite. Depois disso, a esposa e as filhas do sapateiro lhe ofereceram todo tipo de conforto, inclusive uma relaxante massagem com óleos.

O iogue então, contente com tudo isso, concedeu iniciação ao sapateiro e a esposa, e lhes deu estas instruções:

Molde o couro das aflições e dos conceitos
na prancha da bondade e da compaixão,
com o punção das instruções do guru,
costure bem com o fio
do abandono das oito preocupações comuns.
Então como que por milagre,
surgirá o sapato do darmakaya,
que não é visto pelas pessoas comuns.

“Abandone o agradável e o desagradável com o fio do desapego. Faça com que todas as marcas e concepções se tornem o couro. A sua prática é meditar enquanto fabrica sapatos. Fabrique o próprio darmakaya ao costurar o couro com o fio de sua experiência e as instruções do guru.”

O sapateiro entendeu imediatamente a metáfora do guru, e perguntou, “Como posso saber se estou progredindo na prática?”

O iogue respondeu: “A princípio, a sua repulsa pelo samsara irá aumentar. E então, gradualmente, tudo que surgir se dissolverá em sua própria natureza essencial.” Ao dizer estas palavras, o iogue desapareceu.

Ele praticou por doze anos enquanto os sinais surgiram progressivamente, exatamente como o guru havia descrito e assim finalmente produziu o sapato descrito nas instruções do guru. Calçando o darmakaya, com um único passo ele transpassou a base de ignorância que subjaz às seis aflições mentais. Todos os impedimentos de sua mente se dissiparam como fumaça, e ele atingiu o siddhi do mahamudra.

Visvakarman, o deus dos artesões, então, acompanhado de seu séquito, visitou a loja do sapateiro. Enquanto o sapateiro estava sentado, praticando o desapego por todas as coisas mundanas, o próprio deus tomou as ferramentas e o couro e começou a fazer sapatos.

O povo de Visnunagara não sabia nada da prática do sapateiro, e muito menos do seu grau de realização, até que um dia um novo cliente entrou em sua loja. E ali, perante seus olhos, ele viu o sapateiro meditando enquanto o próprio grande deus Visvakarman trabalhava em seu lugar.

Da noite pro dia, a cidade inteira tomou ciência do milagre. E um por um, todos foram ver por si próprios. Eles se prostraram aos pés do iogue sapateiro, e lhe pediram instruções. Ele os ensinou sobre os benefícios indispensáveis das instruções do guru, e então explicou o funcionamento de várias técnicas e doutrinas.

Ele ficou conhecido por toda parte como o iogue Camaripa, o Siddha Sapateiro, e ele ficou amplamente conhecido por seus maravilhosos feitos. Quando chegou a hora, ele seguiu em seu próprio corpo para o Reino das Dakinis.


Traduzido por Padma Dorje em 2022, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson e Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 18/12/23




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