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01. Luipa


Aquele Que Come Tripa de Peixe

Um cão raivoso a quem se esfregou mel no nariz
devora insandecido tudo que está pela frente;
Conceda o segredo do lama a um tolo mundano
E sua mente e a linhagem se destroem em chamas.
Para uma pessoa responsável com conhecimento da realidade não nascida
Um mero lampejo da visão de pura luz-forma do Guru
Destrói as ficções mentais como um elefante louco
Trucidando os exércitos inimigos com uma espada atada à tromba.

Muito tempo atrás na ilha do reino do Sri Lanka, um jovem príncipe subiu ao trono de seu pai, um homem extremamente rico. Os astrólogos da corte calcularam que, para o reino permanecer forte e para o contentamento do povo, o reino deveria ser entregue ao segundo filho do rei falecido. Em seu palácio, onde as paredes eram folheadas a ouro e prata, e adornada de pérolas e pedras preciosas, o jovem rei comandou seus dois irmãos e o povo do Sri Lanka. Porém, ele não sentia nada além de desprezo pela riqueza e o poder, e seu único desejo era escapar daquela situação. Quando da sua primeira tentativa de fuga, seus irmãos e a corte o descobriram e o prenderam com algemas de ouro, mas finalmente conseguiu subornar os guardas com ouro e prata, e, à noite, disfarçado em roupas esfarrapadas, conseguiu escapar acompanhado de um único atendente. Ele recompensou generosamente seu fiel cúmplice antes de abandonar a ilha do reino na direção de Ramesvaram, onde reinava o Rei Rama, e ali trocou seu trono de ouro por uma simples pele de cervo e seu sofá de seda e cetim por uma cama de cinzas. Assim se tornou um iogue.

O rei que se tornou iogue era belo e charmoso, e não encontrava dificuldade alguma ao esmolar suas necessidades diárias. Vagando por toda a largura da Índia, eventualmente ele chegou a Vajrasana, onde o Buda Sakyamuni havia atingido a iluminação, e ali ele se vinculou a Dakinis hospitaleiras, que lhe transmitiram sua sabedoria. De Vajrasana ele viajou a Pataliputra, a capital do rei no Ganges, onde ele viveu de esmolas e dormiu num campo de cremações. Um dia, ao esmolar na feira, ele fez uma pausa numa taberna, e seu carma efetivou seu encontro com uma cortesã que era uma Dakini mundana encarnada. Olhando através dele até a natureza de sua mente, a Dakini disse, "Seus quatro chakras e suas energias estão bastante puros, mas há um obscurecimento de orgulho principesco do tamanho de uma ervilha no seu coração." E assim ela despejou comida podre em sua tigela de barro e o mandou embora. Ele jogou aquela gororoba incomível na sargeta, ao que a Dakini, que ainda estava vendo tudo gritou furiosa: "Como você vai atingir o nirvana se você ainda está preocupado com a pureza de sua comida?"

O iogue ficou chocado. Ele percebeu que sua mente crítica e preconceituosa ainda estava ativa de forma sutil; ele ainda percebia algumas coisas como intrinsicamente mais desejáveis do que outras. Ele também compreendeu que sua propensão era o principal obstáculo ao seu progresso até o estado de buda. Com este entendimento ele foi até o rio Ganges e começou uma sadhana de doze anos para destruir seus padrões de pensamento discursivos e seus preconceitos e julgamentos. Sua prática era comer as entranhas dos peixes que os pescadores descartavam, e transformar as tripas de peixe em néctar de sabedoria pura através do reconhecimento da natureza vazia de todas as coisas.

As mulheres dos pescadores lhe deram seu nome, Luipa, que significa "aquele que come tripa de peixe". A prática que lhe deu seu nome também lhe trouxe poder e realização espiritual. Luipa se tornou um Guru famoso, e ele também é mencionado nas histórias de Darikapa e Dengipa.


Traduzido por Padma Dorje em 2010, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson e Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 18/12/23




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