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3.2. Aflições mentais

Se é preciso que nossa mente seja aquietada a todo momento seríamos seres "defeituosos por natureza"? Se todos temos que lutar contra as aflições mentais não estaríamos tentando combater algo "essencial" em nós?

O nosso estado natural, segundo o darma, é imperturbado e livre de aflições mentais. As aflições mentais são o que produz e dá solidez à experiência de samsara, e quando envolvidos no samsara, achamos que o samsara é natural. Porém, segundo o darma, não há nada mais artificial que o samsara. Assim, nossa natureza essencial é a natureza de Buda, livre de aflições mentais.

Quando os hábitos que dão solidez as aparências e emoções são dissolvidos, não há mais necessidade de colocar energia em aquietar a mente. O exemplo comum é que se você tem uma cartolina enrolada que precisa usar, colocar na parede, você primeiro a enrola no sentido oposto, depois a deixa descansando num lugar plano, até que ela volta a sua forma original, plana. Da mesma forma, no início da prática budista é preciso colocar muito esforço em combater aflições mentais e distração, mas com o tempo cada vez menos esforço é preciso, até que uma prática sem esforço é atingida.

Mais do que isso, as aflições mentais, além de nos fazer sofrer, nos dão trabalho! Se colocássemos 1% do esforço que colocamos na direção de aflições tais como o desejo ou a raiva, na direção da prática espiritual, atingiríamos a iluminação, e um estado naturalmente livre de sofrimento e esforço (o estado natural), muito rapidamente.

Uma vez um Budas não estaríamos mais presos à condição humana? O caminho da iluminação não seria então, basicamente, um caminho no qual desejamos nos libertar de nossos sentimentos, pensamentos, desejos, muitos dos quais parecem inerentes à condição humana?

Sim, a condição humana é temporária, já passamos por bilhões de outras condições, e não há nada de especialmente preferível na condição humana senão que ela é um bom âmbito para fazer a prática espiritual. Então nem a condição humana é nossa condição natural, nem as aflições mentais são naturais da condição humana (ou de nós como seres humanos, ou dos animais etc.) — isto é, o estado natural do ser humano é como o do Buda em forma humana, todas as outras condições e situações são adendos temporários a que damos solidez.

A maioria das pessoas crê que são as situações externas que despertam as emoções, porém isso é um engano, pois as emoções, tanto positivas, quanto negativas, são geradas a partir do nosso interior?

Nas pessoas infantis, isto é, a maioria de nós, os eventos externos têm poder sobre os eventos internos. Nas pessoas que praticam, o oposto ocorre, e isto se deve aos méritos e a prática de compaixão.

O que são emoções inúteis? Toda emoção não é legítima?

Sob um aspecto, pode-se dizer que todas as emoções são dukkha, insatisfação. Porém, em geral também chamamos de emoções coisas como compaixão, alegria e amor. Portanto as emoções úteis são aquelas que beneficiam a você e aos outros seres, como a compaixão (desejar que você e os outros não sofram) ou o amor (desejar que você e os outros sejam felizes).

É possível usar as emoções perturbadoras (apego e raiva, por exemplo) de forma benéfica?

Não, pode haver benefício em reconhecê-las, ver sua natureza pura, reconhecer a energia como mera energia — mas não há nenhum benefício possível nas aflições mentais elas mesmas, totalmente vinculadas com a aflição mental base da ignorância e do não reconhecimento. Quando não há essa aflição mental base, a ignorância, daí é equivocado chamá-las de "aflições mentais" ou mesmo "apego" ou "raiva" — daí elas são as sabedorias correspondentes, no caso dessas aflições, "sabedoria discriminativa" e "sabedoria como a de um espelho".

Como posso combater o sentimento da inveja?

O antídoto da inveja é o regozijo pelo mérito dos outros. Desta forma é possível partilhar dos méritos. Portanto, de forma analítica, a pessoa reconhece que é contraproducente para si mesma vivenciar a vitória dos outros com amargor, assim ela se dispõe a reconhecer quando os venenos e aflições mentais surgem e tentar evitá-los.

Como com todos as outras aflições mentais, a prática consiste em transformar hábitos arraigados através do treinamento da mente. Treinar a mente significa prestar atenção aos acontecimentos mentais e aplicar antídotos, particularmente sem esmorecer perante o reconhecimento de que as aflições seguem aparecendo, e que muitas vezes não somos capazes de lidar com eles adequadamente. Reconhecemos e lidamos o melhor possível, sem desanimar, e então, paulatinamente, hábitos negativos podem ser transformados em hábitos positivos — tais como o regozijo pelo mérito alheio.

No nível vajrayana, certa vez um lama me ensinou que a aflição mental da inveja é exatamente a inteligência que reconhece o melhor mestre. A nossa estratégia usual deludida é olhar comparativamente, e esse olho com relação as realizações dos outros, em si só, é neutro. Quando esse olho vem acompanhado de uma visão errônea, então se produz inveja, sofrimento, e assim por diante. Quando esse olho vem acompanhado da visão mais elevada, ele é o reconhecimento das qualidades do Buda, o regozijo e o louvor sobre as qualidades do Buda. Num caso pensamos "quem esse Buda pensa que é? Ele deveria ser como eu", e no segundo caso pensamos "que inspirador! Que eu eventualmente seja como ele."

O Budismo tem algum ensinamento especial sobre a inveja, a que sentimos quanto aos outros e a que os outros sentem quanto a nós?

Sim, para o budismo a inveja que os outros sentem de nós é um mero objeto de compaixão. Essa inveja não tem poder sobre o que quer que seja, ao contrário do que o pensamento popular, especialmente no Brasil, pode nos levar a crer.

Já nossa própria inveja é extremamente daninha. Os três métodos para lidar com qualquer aflição mental são sempre 1) evitar o objeto; 2) produzir um antídoto; 3) transmutar a aflição em sabedoria. Elas vão em gradação de capacidade, isto é, os seres de maior capacidade praticam a última, os de capacidade intermediária a segunda, e os seres de pouca capacidade, a primeira. Os antídotos para a inveja são o contentamento com a nossa própria situação e o regozijo pela felicidade alheia, seja de que tipo for. Pode parecer estranho que uma pessoa venha a aplicar um antídoto, que é exatamente o sentimento oposto que lhe vem naturalmente — mas é exatamente essa a prática, e a transmutação é parecida — isto é, a própria aflição mental lembra você da prática. Ao reconhecê-la, você lembra de regozijar com as qualidades. Irritantemente, e liberadoramente, a energia da inveja é a mente estratégica, brilhante, que reconhece a qualidade dos outros. É ela que produz um grande mestre, porque é essa mente estratégica que reconhece as qualidades no mestre. A única coisa que você retira da inveja é a ignorância, isto é, a noção de eu e outro. Quando essas qualidades são um reconhecimento da própria liberdade da mente, além de eu e outro, o regozijo é possível, e então você abandona o seu próprio alvo, isto é, aquilo que produz esse atrito, essa incomodação interna. E quanto mais você se incomoda, mais agudamente você pode transformar isso em regozijo. Você tem essa mente capaz de louvor, capaz de reconhecer as qualidades do outro, capaz de entender o carma, e a sua própria aparente falta de mérito perante a do outro. E então você abandona totalmente a mente comparativa e repousa sem conceitos. Toda vez que a mente comparativa vier novamente, você transforma em regozijo, em louvor, em entendimento sobre o carma, e assim por diante. Assim a inveja constantemente lembra você do Buda, o mais invejável dos seres, a quem você não consegue nem mesmo invejar, porque não consegue vislumbrar a profundidade das qualidades dele.

Como combater o ciúme?

É uma aflição mental composta de várias outras. Então todos os antídotos: compaixão, equanimidade, regozijo, alegria — e, talvez principalmente, reflexão sobre a impermanência e sobre como todas as relações baseadas em aflições mentais tais como o apego são insatisfatórias.

Como treinar o desapego?

Você medita na insatisfatoriedade inerente em todas as coisas. O apego é uma distorção da realidade: você acredita que aquele objeto vai lhe dar felicidade confiável, é essa confiança sem base que você coloca no objeto que chamamos de "apego". Nós sofremos porque nossas expectativas (que são absurdas em primeiro lugar, mas não reconhecemos isto) são naturalmente frustradas.

O objeto pode ser desde a coisa mais trivial e grosseira, como sorvete de chocolate, até coisas realmente complicadas, como ideologias, e mesmo estados equivocados de meditação, ou estados de meditação positivos, mas nos quais nos fixamos e atribuímos expectativas irreais.

Ao refletir sobre a insatisfatoriedade dos objetos de apego, naturalmente diminuímos nossas expectativas, e então não só podemos usufruir desses objetos melhor, temos mais liberdade e sofremos menos.

Quando você diz "meditar na insatisfatoriedade inerente em todas as coisas", trata-se de um processo racional? Eu utilizo a razão para encontrar uma verdade? Ou apenas "sento" e contemplo isso (sem me utilizar da razão)?

Existem dois modos de investigação no budismo, o empírico e o por inferência. Em geral o modo de investigação por inferência é considerado inferior, e uma preparação para o modo empírico.

Quando se fala em meditar sobre um assunto, isso significa sentar em posição formal de meditação, isto é, imóvel, e examinar o assunto sob diversos enfoques, especialmente aqueles que possuem um impacto pessoal para você. Dessa forma é uma combinação de um enfoque imaginativo, especulativo, misturado com um enfoque de inferência/racionalidade, e empírico, na medida em que suas experiências presentes e passadas são trazidas como elementos principais desse exame.

Isto é, você pode pegar coisas que naturalmente surgem na sua mente (empírico) e imaginar cenários a partir desses surgimentos (especulativo). Com base nisso, você estabelece raciocínios e conclusões. Com base nas conclusões, você passa, paulatinamente, a não precisar examinar a insatisfatoriedade de algo para efetivamente vivenciar essa insatisfatoriedade imediatamente. Em outras palavras, seu engano, que causa seu apego, vai se enfraquecendo enquanto hábito, e você desenvolve sabedoria de reconhecer as coisas tais como elas realmente são, isto é, insatisfatórias.

Então é um modo de exame sistemático que envolve surgimentos espontâneos na mente e especulação, e com base nisso inferência e conhecimento empírico direto. Você pode começar com qualquer coisa, e apenas marca um tempo determinado, digamos 15 min, e nesse período você vai manter a postura e examinar esse tema.

Apego ao darma não é tão ruim quanto qualquer outro tipo de apego?

Não, é infinitamente melhor. O apego por si próprio é o pior apego, depois o apego pelos outros é bem melhor do que este. E o apego pelo darma é o melhor de todos — porque certamente o darma vai ter as ferramentas para dissipar o apego. É a diferença entre tentar saciar a sede com água doce ou água salgada.

Mas, você não precisa ter apego pelo darma. O melhor é praticar sem apego. Só que, se você for ter apego, melhor ter os apegos melhores.

Apego aos preceitos budistas é menos ruim do que outros tipos de apego?

Se você trocar preceitos por ensinamentos, fica melhor — preceitos são normalmente classificados como os itens de ética prescritiva, em outras palavras, preceitos são os votos, dos quais existem os mais variados. Por exemplo "não matar". Os ensinamentos, por outro lado, incluem os preceitos e tudo mais que é expresso em termos do budismo.

Sim, é bem melhor que todos os outros apegos, até mesmo que o apego ao bem-estar dos seres — porque não existe noção de ensinamento budista que não leve ao bem-estar dos seres. Porém, mesmo esses apegos são desnecessários. É possível praticar bem, e, aliás, pratica-se melhor sem qualquer apego — tanto ao budismo quanto ao bem dos seres. Agora, se a pessoa for escolher entre um apego qualquer e o apego pelos ensinamentos e pelo bem dos seres, é claro que ela deve escolher os últimos.

Achar-se mais virtuoso do que outros é desvirtude?

Desvirtude é quando se prejudica outro ser em corpo ou fala — e quando se planeja ou mantém má vontade contra outro em mente.

Ter orgulho causa muitas desvirtudes, mas em si não é uma desvirtude. Não que seja bom, só que tecnicamente é uma aflição mental, não uma desvirtude.

Achar-se mais virtuoso que os outros em geral é uma forma de orgulho. Achar-se mais virtuoso do que alguém, gerar compaixão, e produzir equanimidade (refletir o quão semelhante a circunstância é, mesmo que num dado momento pareçamos estar melhores do que o outro, e como na base somos semelhantes mesmo com essa diferença circunstancial) não é sequer não virtuoso, se for verdade.

Qual a natureza da raiva?

Com um professor qualificado você aprende métodos para ver diretamente essa natureza. Qualquer explicação sobre o sabor doce do açúcar é fútil.

A explicação que é útil é a de que a raiva não é boa para você nem para os outros, e que é possível treinar a mente para diminuir seu impacto ou evitar completamente a aflição mental. Isso vai ajudar você também na prática de reconhecer a natureza da raiva, porque você vai obter certo distanciamento e assim vai poder observá-la, quando receber as instruções.

Ouvi que o medo é um reflexo da raiva. Pode explicar isso melhor?

Medo é uma forma de raiva que se foca na autoproteção. Quando nos sentimos poderosos, temos raiva, quando nos sentimos fracos, sentimos medo — mas é o mesmo sentimento: olhar para o outro como uma ameaça. Mais precisamente, como essencialmente uma ameaça. Ao negar a natureza de buda ao outro, e ao fato de que ele está assumindo um papel negativo temporariamente, reificamos uma postura e um modo de relacionamento com os outros que vai invariavelmente produzir situações semelhantes vez após vez. A atitude correta é reconhecer três coisas: nossa própria mente, no que ela se engana, e no que ela está sendo levada por emoções pelas quais não tem controle; o outro como Buda em potencial; o outro como um objeto de compaixão porque não revelou sua natureza de buda e age, temporariamente, dominado por suas aflições — assim como nós. Reconhecendo essas três coisas como de uma só natureza, podemos agir com clareza, sem hesitação, sem eliminar a própria dignidade ou a do outro. Em qualquer caso, consigamos ou não evitar que o outro aja negativamente, se nós não agimos negativamente e mantemos essa atitude, tudo que pode ser perdido é o que pode ser perdido, o que é perdível em primeiro lugar, e no máximo purificamos carma. O que não perdemos é nossa dignidade básica, e com certeza avançamos na direção de evitar sofrimentos futuros, para nós mesmos ou para os outros.

Além disso, nosso medo, por si só, é ignorante. Ele não sabe se o outro é ou não uma ameaça, ele toma o outro por uma ameaça. Quando somos tomados pela aflição mental, reificamos um mundo de ameaça, nos tornamos paranoicos, e isso, mais do que tudo, nos transforma em verdadeiras vítimas. Quando o medo surge, é hora de olhar a própria mente — sem reificação, surge o destemor, que não é uma coragem idiota, fabricada com base num otimismo vão, e sim a ausência de fixação, e a confiança numa natureza que não estão vinculada a causas e condições.

Os grandes iogues praticam em locais assustadores, em meio a seres assustadores, e oferecem tudo que pode ser oferecido, tudo que é temporário: posses, glórias, o próprio corpo. Tudo é oferecido aos demônios da fixação na dualidade, com o voto de que eles não mais pratiquem o mal. Quando tudo se dissolve, o que resta? Tudo aquilo que não é dissolvível, não é roubável, não é humilhável: nossa luminosidade radiante, a dignidade básica do estado desperto.

Para o budismo agressividade, raiva e violência são a mesma coisa? A primeira não nos ajuda a sobreviver?

Sim, são a mesma coisa.

Com relação à sobrevivência, há dois aspectos.

O primeiro é que biologia não dita moral. Sobreviver não é um objetivo final, pelo menos não para quem olha por um viés humanista, muito menos para quem olha por um viés espiritual. O que gosto de citar sempre é que se o evolucionismo fosse fonte de moralidade, teríamos que aplaudir o estuprador que engravida sua vítima. Afinal, ele fez mais uma tentativa de preservar seu DNA. Como somos seres humanos, e não simples escravos do nosso material genético, nós damos valor ao que os outros pensam e sentem. Extrapolando isso, chegamos a conclusão que obter boas condições para este corpo é um objetivo trivial, secundário. Se não temos um objetivo maior, a prática espiritual ou o desenvolvimento da virtude, tomar nosso corpo como um fim em si mesmo nos levaria ao hedonismo. E o hedonismo não produz nenhuma satisfação verdadeira ou duradoura.

Em segundo lugar, é extremamente duvidoso que a agressividade tenha alguma vantagem geral evolucionariamente falando. Alguma vantagem, em algum nicho, ela tem. Por exemplo, no inferno, todos os seres acham que a agressividade tem um grande valor evolucionário, e é o único jeito de sobreviver. Nascer nesse âmbito é bastante ruim por esse motivo — ainda mais do que pelo fato de que você sofre constantemente. O pior sofrimento é valorizar a agressividade como seu modo de sobrevivência. Seres mais felizes valorizam a cooperação como modo de sobrevivência.

Dois pontos equivocados portanto: valorizar a sobrevivência, e valorizar a agressividade como valor de sobrevivência.

Ademais, sem agressividade somos muito mais fortes e capazes de ser duros e diretos. A agressividade basicamente mostra que estamos famintos, com dor, com medo — eu vou controlar você para obter o que eu quero. Sendo objetivos com nossa situação e a situação do outro, construímos uma relação e um mundo que não está embasado na lei da selva. E quando a lei da selva vem até nós, pelo nosso carma passado, então existe lucidez e clareza para fazer o melhor, e não somos simplesmente levados pelas nossas emoções.

Um mestre realizado pode ficar bravo? Sentir ira?

Um mestre com certa realização, mas que não tenha superado as aflições mentais, isto é, que não tenha a realização equivalente a de um arhat, pode ainda recair em aflições mentais grosseiras.

Já um mestre que seja um arhat ou um bodisatva de oitavo nível não tem mais aflições mentais. Nesse caso ele não recai mais na atitude de ativamente desejar o mal para os outros.

Algumas vezes a compaixão é dita "irada", quando ela tem por foco a destruição da negatividade. Isso nada tem a ver com ficar bravo ou ter raiva. Isso tem a ver com desejar o bem do outro ao ponto de ser capaz de agir com energia para evitar que o outro se prejudique ou prejudique a outrem. É o oposto da agressividade, mas a expressão externa pode parecer, a alguém que não entende a atividade, como a expressão ou atitude de alguém com raiva. No entanto, fora a aparência que um desavisado pode confundir, são 100% diferentes.

O que é moha e porque é prejudicial?

Preguiça, procrastinação. É prejudicial porque você não faz nada de bom para você ou para os outros, e assim perde muito tempo, que é um tempo precioso, em particular se você tem conexão com o darma ou ao menos um renascimento humano.

A indiferença não é um tipo de agressividade? Ou é menos ruim?

Indiferença é um tipo de ignorância. Pode ser agressão passiva também. Mas a indiferença é com certeza uma forma de aflição mental.

Alguém que é ator e interpreta personagens que apresentam aflições mentais (muitas vezes utilizando suas próprias "emoções escondidas" para isso) está gerando mau carma?

É perigoso na medida em que a pessoa treina em hábitos não conducentes à virtude e à felicidade, mas é possível exibir qualquer emoção ou atitude e manter a mente livre. A arte, como a tecnologia, pode ser vinculada ou usada de acordo com a virtude ou não. E ela pode ser absorvida de acordo com a virtude ou não. Por isso a liberdade (o poder deliberativo, o não seguir/acumular tendências habituais) é muito mais o cerne da ética do que a prescrição. Em outras palavras, você não pratica com o intuito de não matar alguém, um alguém que você nem sabe se vai ou não aparecer, um objeto indefinido. Você pratica para obter liberdade perante seus impulsos e tendências habituais.

De forma geral, embora a possibilidade da prática de virtude e treinamento em hábitos conducentes a virtude possa ocorrer em virtualmente qualquer contexto, dependendo da capacidade da pessoa, ele raramente ocorre. A maior parte dos atores e a maior parte do entretenimento arte produzidos são mistos, neutros ou negativos. Raramente são totalmente positivos. Da mesma forma que nossa fala em geral também. Emoções inúteis que nos fazem perder tempo.

Se a pessoa tem um foco na virtude, no entanto, ela só precisa se afastar das atividades que ela não consegue trazer para o âmbito da virtude. Grandes praticantes não desperdiçam coisa alguma, e encontram a virtude ou a possibilidade de virtude até mesmo nas mais degradantes e difíceis condições, que dirá em condições frívolas ou de mero divertimento.

Torcer por um time de futebol não gera, de maneira bastante irracional, emoções perturbadoras e consequentemente carma ruim?

De forma geral, creio que gera aflições mentais sim. Mas é possível que um praticante consiga integrar até mesmo isso – isto é, se divertir com o jogo sem gerar aflições. Só parece ser raro.

Retorne ao índice. Envie suas perguntas, correções e sugestões para padma.dorje@gmail.com. Última alteração em 2017-10-28 07:09:40.




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