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O professor de Patrul Rinpoche foi o ilustre iogue, o ultrajante mestre dzogchen Do Khyentse.

Tormas são bolos cônicos feitos de farinha torrada de cevada e são utilizados em vários ritos de oferenda. Estes bolos vermelhos e brancos simbolizam a união inseparável de meios hábeis e sabedoria, êxtase e vacuidade. Oferecer e, então, espalhar tormas representa a dispersão da ilusão do ego.

CERTO DIA DZA PATRUL, PASSEANDO anonimamente disfarçado de mendigo, chegou para visitar seu mestre Doe Khyentse. Ao chegar, deparou-se com um lama fazendo tormas na cozinha do acampamento do mestre.

Quando Patrul Rinpoche perguntou ao lama se podia ver Do Khyentse, o lama, olhando de lado para o mendigo esfarrapado diante dele, disse: “Oh, claro, marcarei uma entrevista, não te preocupes. Enquanto isso, não te importarias de ajudar com essas tormas?” Então o lama saiu, rindo sozinho, enquanto Patrul fazia os bolinhos para ele.

Como não encontrou manteiga para pintar a torma branca, mas bastante tintura vermelha para as vermelhas, o indiscutivelmente erudito Patrul pintou uma torma vermelha que — pelo formato — todos saberiam que deveria ter sido pintada de branco. Mesmo seu nome, kartor, significaria torma branca, exigindo que fosse branca... Mas agora era vermelha.

Quando o lama finalmente retornou, ficou muito satisfeito de ver que o mendigo havia feito todo o trabalho... até que percebeu que uma kartor havia sido pintada de vermelho, e não de branco.

“Que burrice é essa?”, berrou o lama.

Patrul Rinpoche gentilmente respondeu: “Poderia dizer, bom senhor, a razão ritual pela qual ela não pode ser vermelha e precisa indiscutivelmente ser branca?”

“O quê!?”, explodiu o lama, movendo seus olhos injetados vermelhos para cima, exasperado. “Não só esse vagabundo imundo comete erros idiotas, mas ainda por cima é sem-vergonha ao ponto de me questionar!” Então começou a surrar o mendigo e chutou-o para fora.

“Pode esquecer do encontro com Do Khyentse enquanto eu estiver por perto!”, berrou o lama para a esquiva figura de Patrul Rinpoche, que desapareceu na floresta.

Aquela noite Do Khyentse Rinpoche perguntou se alguém havia vindo visitá-lo durante o dia, já que — devido a uma premonição que recebeu num sonho — aguardava ansiosamente ver seu protegido especial, seu filho espiritual Patrul Rinpoche. Os alunos informaram que ninguém havia chegado durante todo o dia.

Porém, quando o mestre clarividente insistiu que alguém precisava ter vindo, o lama que estava fazendo as tormas na cozinha finalmente abriu a boca, contando a Do Khyentse que, de fato, um mendigo havia chegado à cozinha pedindo esmolas em troca de trabalho, mas que ele havia sido mandado embora quando cometeu o erro de pintar uma torma branca de vermelho!

“Aquele era Dza Patrul, idiota!”, trovejou Do Khyentse, que era conhecido por sua ira tanto quanto por sua sabedoria e compaixão. “Traga-o aqui imediatamente. Não me encontrarei com ninguém até que o veja!”

Os servos tiveram que encontrar o mendigo e persuadi-lo a retornar, a convite explícito de Do Khyentse.

Quando finalmente Patrul chegou à presença de seu mestre na manhã seguinte, Do Khyentse colocou-o no trono de ensinamentos e reverentemente pediu para que elucidasse o O Caminho do Bodisatva (Bodhicharyavatara), de Shantideva, um texto do qual os comentários de Patrul eram famosíssimos.

Perante uma vasta assembleia, Patrul Rinpoche expôs o clássico, explicando a bodicita (a aspiração altruísta da iluminação) em especial, juntamente com todos as suas formas e sentidos. Então ele disse, enquanto seu envergonhado companheiro de pintura de tormas escondia, sob o manto monástico vermelho, a face, agora da mesma cor do manto: “E apesar de todos hoje em dia falarem maravilhas sobre a mente altruísta da iluminação, ainda há alguns entre nós que nem sequer sabem o significado das tormas rituais que estão pintando tão orgulhosos, embora saibam muito bem como bater naqueles que os questionam”.

Do Khyentse gargalhou; pela clarividência, ele sabia perfeitamente o que havia ocorrido na cozinha no dia anterior. Exclamou então: “Maravilha! Está aí um trecho de Shantideva que eu nunca tinha ouvido antes!”




Estes contos de Patrul Rinpoche foram coletados e escritos por por Matthieu Ricard, e distribuídos por ele para alguns amigos nos anos 1980 e 1990; são traduções do inglês feitas por Padma Dorje em 1999, baseadas em versões mais antigas (menos completas e literariamente trabalhadas) do que as que finalmente foram publicadas em Enlightened Vagabond. O livro está em tradução ao português e contém muito mais histórias e informações sobre vida de Patrul Rinpoche e outros grandes lamas contemporâneos a ele.

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