As Instruções do Buda Primordial
O siddha (adepto tântrico iluminado) Gyalwa Jangshub predisse que Patrul Rinpoche, uma legítima encarnação de Avalokitesvara (Chenrayzig, o Buda da Compaixão), iria a Dergé no Tibete oriental e que aqueles com percepções comuns, iludidas, não o reconheceriam, percebendo somente um mendigo em trapos, apenas um errante pedindo esmolas por ali... e assim aconteceu.
As "Instruções Orais do Buda Primordial" ("Kunzang Lamai Shalung", em tibetano, [publicado sob o título "The Words of my Perfect Teacher", em inglês]) é um dos mais renomados escritos de Patrul, um livro popular e original de muitas centenas de páginas.
CERTA VEZ PATRUL RINPOCHE ESTAVA CAMINHANDO pelas montanhas próximas a Katog, na província de Dergé, onde há várias grandes stupas (grandes monumentos em forma de sino que servem como santuários para as relíquias sagradas dos patriarcas budistas). Patrul encontrou ali a hospitalidade de um velho lama de Gyarong.
Patrul e o lama conversaram. O lama de Gyarong disse ao anônimo Patrul, que lhe parecia apenas um sincero mendigo religioso: "Pareces interessado nos ensinamentos budistas. Conheces algo de sua prática efetiva?".
O incomparavelmente erudito e realizado Patrul respondeu: "Um pouco, apenas umas coisinhas aqui e ali, de que fui bem-afortunado o suficiente para ouvir no passar dos anos. Por certo o Darma sublime é inimaginavelmente vasto e profundo".
O monge disse a Patrul: "Ouça, tenho aqui um texto maravilhoso que explica completamente os fundamentos da doutrina budista; é cheio de contos interessantes e revelações compassivas. Foi recentemente escrito pelo professor iluminado Patrul Rinpoche. O livro chama-se 'As Instruções Orais do Buda Primordial'. Explicarei-o para ti, se quiseres".
Patrul Rinpoche pareceu gostar da ideia. O idoso lama ensinou-lhe sobre as quatro contemplações que retiram a mente do samsara e outros tópicos dos capítulos iniciais do livro, que contêm as instruções essenciais da linhagem oral, que o próprio Patrul havia reunido. O lama estava satisfeito por ter um estudante atento, e explicou tudo em detalhes, para deleite mútuo.
Poucos dias depois, todos ficaram sabendo que o ilustre Patrul Rinpoche iria dar ensinamentos bem perto, no mosteiro de Katok. O próprio Patrul passou uma grande parte do tempo circumambulando as stupas, as quais ele percebia, através de sua visão sagrada, como o local de todos os iluminados do passado, presente e futuro. Alguns monges de Dzachuka, que também estavam circulando as stupas, viram-no ali; reconhecendo-o imediatamente, eles prostraram-se na terra. Todos regozijaram-se: o glorioso Dza Patrul havia chegado!
Aquela noite o lama de Gyarong retornou do mercado. Ele disse a todos na casa, maravilhado, que o próprio Patrul estava na área de Katog e que logo chegaria ao mosteiro. Virando-se para o mendigo anônimo, o lama disse: "Não é esplêndido que o autor iluminado desse mesmo livro que estamos estudando esteja tão próximo?".
Patrul pareceu pouco impressionado. "Talvez seja ele, mas por outro lado talvez não... Quem pode dizer? Afinal, o que há de tão especial a respeito de Dza Patrul? Ele provavelmente é apenas mais um lama da cidade. 'É melhor reverenciar os ensinamentos do que o professor', como disse o Buda."
O lama bateu nele, berrando: "Como ousas falar dessa forma a teus superiores? Devo mandar-te embora dessa casa direita! Devias ter mais respeito por nosso professor gracioso, o Buda vivo Patrul Rinpoche".
Dois dias mais tarde, Patrul subiu ao decorado trono de ensinamento no mosteiro de Katog, perante uma assembleia de milhares. Quando o lama de Gyarong viu seu estudante temporário sentado no trono, imediatamente percebeu o que havia acontecido. Ele fugiu envergonhado e nunca mais foi visto em Katog.
Mais tarde, Patrul foi relembrado da história. Ele sorriu e disse: "Isso é muito ruim mesmo. Talvez ele realmente tenha ficado bravo comigo; mas mesmo assim deu excelentes ensinamentos das 'Instruções Orais do Buda Primordial' a respeito das quatro contemplações que livram a mente do samsara, sobre as quais eu nunca me canso de refletir a respeito. Eu espero sinceramente e rezo para que meu gentil professor, o lama de Gyarong, encontre a paz sublime, e que todos os seres ligados a mim iluminem-se juntos".
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