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A Prata é um Veneno


CERTA VEZ PATRUL VIVEU EM UM VALE onde as pessoas eram muito devotadas a ele. Um dia alguns eruditos khenpos (abades), juntamente com o filho do mestre dos tesouros Chogyur Lingpa, Tsewang Norbu, foram até seu retiro solitário de forma a receber ensinamentos; todos sentaram ao redor de Patrul em uma várzea cercada de flores silvestres.

No vale havia um homem que fervorosamente desejava oferecer a Patrul uma peça de prata na forma de uma ferradura do tamanho de uma pedra. Mas sabia que Patrul raramente aceitava oferendas.

O velho chegou repentinamente a cavalo, desmontou, prostrou-se três vezes, e colocou o pedaço de prata aos pés de Patrul. Ele gritou: "Aqui está uma oferenda. Por favor salve-me de renascer nos reinos inferiores!". Então ele saltou no cavalo e fugiu galopando, consciente de que se permanecesse, Patrul rejeitaria sua oferenda.

Tsewang Norbu pensou para si: "Patrul provavelmente utilizará esta oferenda para algum propósito meritório". Patrul, porém, nunca pegou o pedaço de prata. Quando completou seus ensinamentos, simplesmente levantou-se e saiu. Tsewang Norbu não podia deixar de pensar que teria sido melhor utilizá-la para algum propósito meritório, em vez de apenas deixá-la ali, mas manteve estes pensamentos para si.

Enquanto caminhava, olhou para trás várias vezes: a prata ainda estava ali, um ponto brilhante na várzea verde. Esta imagem permaneceu com ele enquanto desciam a colina, e um sentimento muito poderoso de cansaço com as coisas do mundo e renúncia surgiu dentro dele.

Tsewang Norbu pensou consigo mesmo: "Quando penso no meu gracioso guru e nas pessoas ao redor dele que totalmente renunciaram aos apegos ilusórios desta vida passageira, isso me faz pensar que deve ter sido exatamente assim durante a vida de Buda e seus arhats liberados".

Então lembrou uma história: Certa vez o Senhor Buda e seus discípulos — incluindo Ananda, Kasyapa e outros — estavam caminhando quando viram uma grande pepita de ouro no chão. Enquanto passavam, um após o outro exclamava: "Veneno!".

Uma garotinha, que estava colhendo lenha ali por perto, ouviu isto. Depois que eles se foram, ela viu a pepita, sem saber exatamente o que era. Ela pensou: "Que estranho — aqui está uma peça bonita e bela de pedra amarela, e todos os estimados arhats pularam por ela e evitaram tocá-la, exclamando 'Veneno!'. Deve ser algo que eu também não devo tocar".

A criança correu para contar isso a sua mãe. "Hoje vi um tipo esquisito de veneno", ela começou, relatando o que havia ocorrido.

Sua mãe foi imediatamente checar. Ela achou o ouro, levou-o para casa e utilizou-o para patrocinar oferendas religiosas.

Como fogo, as notícias se espalharam de que o Buda e seus amigos renunciantes haviam intencionalmente evitado uma peça de ouro, deixando-a na relva, e além disso que a haviam chamado de veneno.

Tsewang Norbu sentiu-se muito edificado, inspirado por ver — que mesmo nos tempos modernos - seu professor Patrul Rinpoche espontaneamente seguia os passos de Buda.



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