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Algumas respostas sobre o tsog

A melhor apresentação sobre a prática do tsog que se encontra na literatura do vajrayana em inglês e português está no livro de Chagdud Khadro Comentários sobre Tara Vermelha: Instruções para a prática concisa denominada “Tara Vermelha: uma porta aberta para a bem-aventurança e o estado desperto definitivo”. Embora bastante concisa, é uma explicação bastante profunda.

A prática do tsog (tsogkhor em tibetano, ou ganachakra em sânscrito) é exclusiva do budismo vajrayana na Índia clássica, China, Tibete e Japão — embora seja mais comum hoje em dia no budismo que tem conexão com os povos dos Himalaias, Tibete, Nepal, Butão, e no Sikhim e outras regiões ao norte da Índia onde se pratica o vajrayana, bem como nos centros em outros países ligados a este budismo praticado nos Himalaias.

Tsogkhor ou ganachakra significa literalmente “reunião em roda” e representa a união da deidade com os praticantes, da sanga com a linhagem e das substâncias de oferenda com a sabedoria não discriminativa, que não opera por meio de apego ou aversão.

Ela inclui os cinco sabores, além de mamsa e madana (álcool e carne, chamadas de “substâncias samaya” ou substâncias de compromisso), que obviamente outras formas de budismo e algumas religiões não budistas muitas vezes julgam ser substâncias degradadas. O uso de substâncias e práticas antinômicas (que quebram as expectativas do que é considerado aceitável) é própria do tantra1Tantrayana é um outro nome para vajrayana, assim como sutrayana (veículo dos sutras) é outro nome para o mahayana. Cabe lembrar que o vajrayana não é uma escola separada do mahayana, mas ele em si é uma forma de mahayana, bem como contém os ensinamentos do Buda chamados algumas vezes de hinayana. A noção de yana não é semelhante a de tradição ou linhagem, mas é um conceito cumulativo de classificação dos ensinamentos do Buda., seja ele budista ou hindu. Além das substâncias em si, a integração do prazer sensorial como prática de meditação é algo exclusivo do vajrayana.

A prática do Tsog precisa envolver substâncias consideradas impuras pela mente dual. Isto é exemplificado pelo uso de álcool e carne — embora alguns professores já tenham expressado que em culturas em que o consumo de carne é comum, isto é, em lugares em que as pessoas acham normal comer carne, o uso dessa substância pode não ser adequado ou ideal. Por outro lado, como centros de darma costumam atrair vegetarianos, com sua costumeira combinação de aspirações virtuosas e pontadas de julgamento e higienismo espiritual, pode bem ser que a carne continue adequada como substância de compromisso.

Uma situação recorrente que aparece nas hagiografias de grandes professores do vajrayana é eles em algum momento serem ofertados (pelo seu guru ou uma dakini) substâncias “inaceitáveis”. Eles finalmente as aceitam, e assim superam o apego autocentrado, muitas vezes vinculado a um apego higienista, moralista ou de superioridade espiritual2Aqui é possível identificar uma conexão com a ideia dos ideais espirituais do fascismo. Dzongsar Khyentse Rinpoche diz que o budismo é a forma mais profunda de anarquismo, e assim, o vajrayana é justamente o “budismo antifa”.. Eles abandonam o apego a sua posição social, e a identificação ideológica a ideais puristas, abraçando a não dualidade. Por exemplo, uma pessoa que era de casta brâmane pode ter um guru sem casta, e assim um fator efetivo de destruição de seu orgulho social pode vir a ser aceitar mocotó e pinga, as coisas mais nojentas para um brâmane — ao partilhar dessas substâncias, bem como ir ao mercado e as comprar, e também as preparar para o guru, ele abandona o autocentramento e o forte senso de identidade ligado a casta ou posição social. São exatamente aquelas coisas que, se outro brâmane visse ele comendo ou comprando, o fariam cheio de horror e julgamento, e o considerariam degradado e imundo, exatamente como encaram as próprias substâncias. A pessoa que partilha daquilo não pertence mais ao que lhe conferia identidade. Esse tipo de superação de preferências e de vínculos identitários, que algumas vezes sustentamos com o simples evitar ou aceitar o consumo de certas substâncias, é parte crucial do tsog.

Essas práticas algumas vezes são mantidas em segredo porque pessoas despreparadas, ao ver ou receber tais substâncias, podem gerar conceitualizações, que por sua vez podem lhes causar obstáculos de vários tipos. Como por exemplo uma pessoa vegana pode querer evitar o vajrayana, porque ali parecem existir práticas que criam exceções para o que ela tem como princípios irrevogáveis. Nesse caso insistir que a pessoa coma carne, ou mesmo revelar de forma abrupta ou fora de hora que esse tipo de prática existe no vajrayana, é desaconselhável para uma pessoa assim.

Porém, oferendas de alimentos são comuns a absolutamente todas as formas de budismo — como forma essencial de dana, doação, generosidade — a primeira perfeição a ser praticada. Isso é feito ao altar, e também é feito diretamente a monges, desde a época do Buda.

Na época do Buda, entre os monges, também havia uma mentalidade de não julgar o que é oferecido, já que é o que a pessoa tem e pode oferecer — e o objetivo principal dessa questão de oferenda é abrir um campo onde pessoas com pouco ou nenhum mérito possam gerar mérito. Aliás, como monge, na época do Buda, não se podia sequer escolher a quem se pedia; durante a esmola de comida, se determinava uma rua e se ia de casa em casa ao longo dela, independente se era um lugar de gente pobre ou rica, limpa ou suja, doente ou saudável, degradada ou santa — ou se comiam carne, chuchu, escargot ou só broto de alfafa. A única exceção seria um animal abatido especialmente para o monge, que neste caso o monge deveria recusar. É claro que, no budismo mahayana em geral, quando a pessoa produz ou compra o próprio alimento, é preferido ou exigido o vegetarianismo, como você pode ver no meu vídeo sobre o assunto do budismo e vegetarianismo.

Algumas vezes alguns praticantes vajrayana que desconhecem as regras do tsog tentam burlar votos de vegetarianismo que tenham tomado ao oferecer uma quantidade grande de carne, que dura basicamente até o próximo tsog. Como a substância consagrada deve ser vista como sabedoria, e não como carne, eles usam essa “esperteza” para consumir carnes supostamente sem quebrar votos. No entanto o abuso da substância do tsog (comer demais, usar o tsog como sustento ou alimentação casual) é em si uma quebra.

As oferendas tradicionais em todas as formas de budismo são: água para beber, água para lavar (ou banho, ou lavar os pés), flores, incenso, lamparinas, comida e diversão (essencialmente música). Essas são coisas que você oferece a um leigo ou monge, uma pessoa qualquer a quem você quer estender respeito, seja ela respeitável ou não, conhecida ou um forasteiro — se você a recebia em casa no período clássico do budismo na Índia, e talvez antes disso. E assim, simbolicamente, são essas coisas você oferece no altar também. Em alguns lugares se oferece mais incenso ou flores, e frutas, alguma água, etc, — se focam em algumas coisas, não dão tanta importância para outras — mas as sete oferendas são comuns a todas as formas de budismo, na sua parcialidade ou totalidade.

É comum a todos os praticantes budistas oferecer biscoitos, arroz ou frutas no altar, como uma oferenda aos budas e bodisatvas ali representados. Os praticantes do vajrayana, e algumas vezes os praticantes do mahayana e mesmo do theravada, também fazem oferenda de alimento e outras substâncias para uma classe de bodisatvas chamados “protetores do darma”, num altar separado, um pouco mais baixo. Todas estas oferendas são feitas em uma quantidade pequena, e devem ser descartadas na natureza, com certa regularidade.

Em todas as formas de budismo, a própria prática (tenha ela a aparência de uma meditação não elaborada, ou a aparência de uma cerimônia complexa, ou seja ela composta de ações no cotidiano), é uma oferenda. Dentre as oferendas que podemos fazer à linhagem, aos budas e bodisatvas, como louvor e agradecimento, e aos seres sencientes, por compaixão, a oferenda de prática é considerada a melhor delas, superior à oferenda de esforço e tempo, bem como à oferenda de bens materiais — que, claro, são oferendas que também devem ser feitas e também são a prática de generosidade, na sua forma mais literal.

Dentre as práticas budistas em todas as tradições, com um nome provavelmente ainda mais antigo que o budismo, existe o puja, que é uma prática geralmente feita em grupo, onde se faz pelo menos recitações de textos budistas em voz alta, mas dependendo da tradição, várias outras atividades de meditação. Estas meditações algumas vezes assumem um formato que as pessoas que não entendem o darma podem vir a chamar de “ritual”. Puja significa oferenda, devoção ou celebração em honra, no budismo, por exemplo, das três joias (Buda, o Darma que ele ensinou, e a Sanga, a comunidade que o pratica).

Dentro do vajrayana, há várias formas de puja. O puja no vajrayana, como todas as práticas formais e não formais, tem três etapas, algumas vezes chamadas de três excelências: preliminares, prática principal e dedicação. As práticas preliminares e a dedicação consistem em manter certas atitudes mentais e fazer certas reflexões enquanto se recita preces de forma audível (não precisa ser em voz alta, mas não totalmente em silêncio). A prática principal se divide em duas etapas ou iogas, o estágio do desenvolvimento (algumas vezes chamado de estágio da criação ou geração), e o estágio da consumação (algumas vezes chamado de estágio da completude ou perfeição).

No estágio do desenvolvimento, o praticante iniciado no vajrayana fortalece o hábito de abandono ao apego ao eu com uma meditação em que se autoidentifica com a deidade (que é naturalmente livre desse apego). Ele faz isso a partir da visualização da mandala, da recitação de mantras, e do executar de mudras. Ele assim se identifica em corpo, fala e mente com a sabedoria, a disposição iluminada e a atividade benéfica da deidade, se tornando capaz de expressar essas qualidades no mundo visto como a mandala. Para quem olha de fora, ele também está recitando um texto, tocando instrumentos e fazendo gestos — mas há vários aspectos e roteiros de meditação que são aplicados enquanto se recita. Também é necessário manter a postura com a coluna ereta, e os olhos abertos ou entreabertos — durante toda a prática. Há vários aspectos internos e externos nessa meditação dinâmica própria do vajrayana.

Depois de meditar por algum tempo no estágio do desenvolvimento, ele se engaja na meditação do estágio da consumação, sendo que um dos tipos de estágio de consumação é justamente a prática do tsog, onde se faz uma oferenda de alimento e bebida às deidades. O tsog é uma prática do tantra interno, isto é, onde se deve evitar ver uma separação ou dualidade entre o praticante e a deidade; assim, se faz justamente uma oferenda as deidades internas, que habitam no corpo do praticante desde o tempo sem princípio, e que são reveladas através da cerimônia de iniciação. O tsog não deve ser visto como uma refeição ou lanche, mas como uma forma de purificar a visão dualista, que separa você da natureza de buda e que nos faz nos vermos como algo inadequado perante o darma, ou pelo menos algo essencialmente diferente das três joias e das três raizes (a forma vajrayana em que as três joias, através da visão pura, se tornam guru, deidade e dakini).

Os tantras externos, menos sofisticados, justamente enfatizam a separação entre o praticante e a deidade — e nesse nível de prática, comer algo que é oferecido à deidade ou colocado no altar, é considerado uma quebra. Assim, a prática do tantra interno também é antinômica ao entendimento menos sofisticado do tantra externo, ou tantra dual. No tantra interno, a maior quebra é ver uma separação entre o praticante e a deidade, ver um ou outro como superior ou inferior — no tantra externo, a quebra é desrespeitar o que é visto como superior e desigual. Isto é mencionado porque também existe prática do vajrayana em que não se consome tsog, e em que consumir tsog é visto como uma quebra, embora seja extremamente incomum a prática dos tantras externos nos dias de hoje.

Enfim, com a consumação da prática, após um período de consistência na meditação, tudo que surge é reconhecido como naturalmente livre de fixações dualistas, todos os movimentos são reconhecidos como compaixão, e tudo que pode surgir na mente nunca se separa da sabedoria.

Então o praticante consome o tsog como uma oferenda, durante a oferenda ou puja, que é a oferenda de prática. Abandona-se as noções extremas de oferenda, oferecedor e recipiente da oferenda. Não é necessário comer tudo, o que é crucial é praticar a sabedoria da deidade, que não discrimina a oferenda como algo puro ou impuro, e não come por apego ou aversão, mas como uma forma de fortalecer o laço com a realidade das coisas, a linhagem e os outros participantes, bem como com todos os seres sencientes. É bastante importante manter uma mente livre de extremos conceituais, e comer sem julgamento.


Um pouco de história

Há dois eventos particularmente marcantes de dana (doação, generosidade) na trajetória do próprio Buda Sakyamuni. Um deles é contado nos Jataka, as histórias de suas vidas passadas. Um dos Jataka relata que quando ele era um menino em outra vida como bodisatva, ele ofereceu o próprio corpo como alimento para uma tigresa e seus filhotes. O outro evento importante foi em sua última vida como bodisatva, quando nasceu e recebeu o nome Sidarta, logo antes de se tornar Buda. Após um período de ascetismo extremo em que não comeu quase nada por sete anos, ele abandonou o ascetismo extremo e aceitou uma tigela de arroz de leite de uma moça chamada Sujata. Foi com a energia dessa oferenda que ele finalmente sentou sob a árvore Bodi, e meditando ali por sete dias, atingiu a iluminação. Os seguidores do Buda até aquele momento, ascetas como ele, o abandonaram imediatamente. Ele não correspondia a seus ideais de ascetismo, afinal, era alguém que passou a comer de uma forma relativamente normal, e não numa quantidade mínima, cheia de restrições. O arroz doce que foi oferecido ao Buda é descrito como uma iguaria extremamente deliciosa, o leite tendo sua origem na oferta de uma vaca que só havia bebido leite, e cuja mamãe vaca só havia bebido leite, e assim sucessivamente, por sete gerações. O fato de uma mulher jovem e bonita fazer essa oferenda também é descrito, e isto, é claro, também foi motivo de reprovação pelos ascetas um tanto fanáticos que idolatravam o Buda até aquele momento.

Esses dois eventos na vida do Buda e em suas vidas passadas se espelham nas práticas vajrayana de chod (literalmente “ruptura”, isto é, a separação entre o praticante e o apego ao eu, onde se oferece simbolicamente o próprio corpo a várias classes de seres como alimento) e o tsog em si, onde treinamos a mente não julgadora e não dual, e não preocupada com o que os outros pensam, ou com pureza ou impureza, ou com evitar prazeres e dores, ganhos e perdas — bem como restauramos a conexão com essa integridade de qualidade vajra, isto é, indestrutível, através da retomada de compromisso com a linhagem e retomada de votos. Similarmente ao Buda após comer arroz doce, é logo depois do tsog, após a purificação dos compromissos quebrados — não com fanáticos com opiniões religiosas, mas com a natureza das coisas como elas são —, que os sidis ou realizações espirituais são concedidos.

O tsog é uma das principais meditações do vajrayana, como uma prática de oferenda não dual, ocorre a purificação de compromissos quebrados pelo uso dos cinco sentidos, uma vez que as substâncias que entram em contato com eles são consagradas como expressões de sabedoria pela visão pura do mestre vajra. Assim, comer o tsog não é apenas um treinamento na autoidentificação com a deidade, mas uma purificação de nossa percepção dual costumeira — o que no fim das contas, é a exata mesma coisa. Ele é o próprio remédio para as muitas quebras de compromisso que nos levam a não reconhecer a verdadeira natureza das coisas.

Além disso, num sentido profundo, o tsog é uma forma de chod, e o chod é uma forma de tsog. Em outras palavras, a natureza última consome todas as coisas do samsara e do nirvana sem deixar vestígio. É por isso também que se considera extremamente auspiciosa a interdependência entre os seres que porventura sofreram para a produção das substâncias de oferenda: o animal que tem um pedaço do corpo oferecido como prática, ele certamente faz uma conexão com o darma — mas também os trabalhadores mal pagos em todas as cadeias de produção, os chefes que os exploram, as pessoas que cometeram não virtudes em negociatas e emitiram gases de degradação ambiental no transporte, os insetos que morreram pelo uso de agrotóxico, e assim vai. Todos esses seres participam da reunião auspiciosa, e estão fazendo prática juntamente com os iogues do estágio do desenvolvimento e da consumação, e assim, um dia, eles todos vão atingir um estado de felicidade verdadeira, além dos extremos de início ou fim.

A verdade é que, sem um embasamento em sutra e tantra, sem entender algo de vacuidade, é absolutamente impossível entender o que são as oferendas no budismo. Os objetos de refúgio no budismo, as deidades, budas, bodisatvas, gurus, dakinis, protetores, etc. não possuem existência intrínseca, não existem de forma dual. As religiões teístas detém visões extremas e dualistas com relação a seus objetos de refúgio, e assim, as oferendas são feitas esperando certos resultados espirituais ou mundanos. Não existe um contexto de mérito e sabedoria, isto é, criação de hábitos, prática, mudança de perspectiva, abertura de possibilidades — em conjunto com o entendimento das coisas como elas realmente são. No budismo precisamos de mérito para encontrar, entender e aplicar os ensinamentos, e precisamos de sabedoria para reconhecer a verdadeira natureza das coisas. As oferendas são feitas neste contexto de mérito e sabedoria. Oferecer, no sentido último, é entender a vacuidade das oferendas, é entender a verdadeira natureza delas — e das outras duas esferas, o oferecedor e o recipiente — como uma coisa só, isto é, vacuidade.

As fontes de refúgio no budismo não são o criador de todas as coisas ou seres onipotentes, são apenas detentores da sabedoria e compaixão sem limites. Isso é bem diferente de crenças eternalistas como as das religiões abraâmicas, ou as crenças de materialismo espiritual de outras tradições em que se faz trocas, barganhas ou negociações com seres superiores. Aí não se trata da mesma visão, e portanto, não pode ser a mesma prática, ainda que se possa usar o mesmo termo “oferenda”. Isto é uma mera questão de limitações da linguagem, e ocorre porque os termos dependem de contexto.

Se alguém oferece algo para agradar um ser superior para obter vantagens ou resolver algum perrengue da vida, isso é uma perspectiva convencional do samsara, que só vai produzir ainda mais samsara, que no fim das contas é apenas sofrimento. Esse tipo de negociação não vai produzir quase nenhum mérito e definitivamente nenhuma sabedoria. Se uma pessoa se aplica no budismo dessa forma, pode não ser uma heresia ou uma coisa completamente daninha, mas é no mínimo um tremendo desperdício.


Preparei esse texto a partir de dezoito respostas que dei nos últimos anos para pessoas que viram as fotos de minhas oferendas de tsog, que eu talvez insensatamente posto em algumas redes sociais e nas minhas comunidades no YouTube. Algumas vezes eu peso o benefício de postar com o possível malefício de divulgar a prática secreta do vajrayana, e minha própria prática. Em geral, como não há nada ali que seja extremamente incompatível ou estranho em nossa cultura (fora a mistureba), e porque outros aspectos da prática (como imagens de deidades, ou o texto) seriam muito mais problemáticos de divulgar, eu considero que está tudo bem postar essas fotos, que não revelam todo meu altar. O benefício disso é partilhar da prática: embora a pessoa inadvertida que se depara com a foto da oferenda de tsog não possa usar o nariz, dedos, língua e ouvido para consumir as oferendas, ela pode ser beneficiada pelo sentido da visão — e assim se conectar com o vajrayana.

O vajrayana usa um calendário lunar em que todo mês há dois dias especialmente auspiciosos para fazer tsog, o dia de Guru e o dia de Dakini. Além desses dois dias, há, dois dias antes de cada um desses dias, os “dias de Tara”. Isto é, para um praticante com um certo engajamento, a participação em dois ou quatro tsogs por mês, dois de Tara, um de Guru e um de Dakini, é comum. Há outras datas em que é adequado fazer tsog, como em certos eclipses, datas de aniversário ou parinirvana (falecimento) de mestres espirituais, ao fim de retiros, todos os dias ao longo de certos retiros, e outras ocasiões especiais. Essa prática pode ser feita solitariamente, embora o ideal seja com um grupo de praticantes, se algum deles puder conduzir a prática. Também é possível fazer online com alguns centros de darma, e preparar as próprias oferendas enquanto se participa do vídeo ao vivo na comunidade budists, ou, o melhor de tudo, se pode ir até a comunidade budista ou centro de darma e fazer num grupo maior, com seu professor. Se nada disso for possível, a pessoa pode contribuir com dinheiro para a compra das substâncias oferecidas em algum desses âmbitos.

Com relação às sobras, após comer o que quiser, você guarda o que achar adequado guardar para comer depois, ou oferecer para pessoas com samaya puro que não estiveram presentes. O que sobrar não deve ser jogado no lixo, mas levado em algum lugar limpo na natureza.

De toda forma, é impossível aprender uma prática vajrayana sozinho pela internet, se você quer fazer prática vajrayana, você precisa encontrar um professor pessoalmente.


• Para saber as datas de tsog use o calendário de datas sagradas do Chagdud Gonpa, que utiliza o fuso horário de São Paulo/Porto Alegre para definir as datas, quando a troca de lua ocorre na cúspide do dia. (Os dois dias mensais de Tara, e os dias de Guru e Dakini são os dias de fazer tsog, mas você certamente precisa de instrução de professores qualificados, e fazer em grupo na sanga, antes de tentar fazer sozinho).

Centros de darma que recomendo, artigo em tzal.org.

• Um short com algumas de minhas oferendas de tsog.

Oferendas e os quatro tipos de convidados, vídeo no Canal Tendrel.

Oferendas simbólicas, vídeo no Canal Tendrel.

Budismo e vegetarianismo, vídeo no Canal Tendrel.

Recomendações para a prática budista, artigo em tzal.org.

O que é prática budista?, vídeo no canal Tendrel sobre as três excelências.

A prática do altar, texto de Padma Dorje em tzal.org.

Como fazer a prática do altar, vídeo no canal Tendrel.

Sobre minha prática, vídeo no canal Tendrel.

Prática formal e informal, vídeo no canal Tendrel.

O espaço e o tempo da prática, artigo em tzal.org.

Algumas respostas sobre budismo e vegetarianismo, respostas a perguntas por Padma Dorje em tzal.org.

Buda foi vegetariano?, texto de Padma Dorje em tzal.org.

O Alimento os Bodhisattvas, de Shabkar. Para uma defesa budista veemente do vegetarianismo por um budista que praticava de forma não sectária no Tibete no séc. XIX. Livro em português na Editora Makara.

Em defesa dos animais: direitos da vida, de Matthieu Ricard. Neste livro Matthieu Ricard, um monge budista, fala sobre as várias formas pelas quais os seres humanos abusam dos animais e como isso reflete na prática budista e numa visão laica de proteção desses direitos. Livro em português na amazon.com.br.


1. ^ Tantrayana é um outro nome para vajrayana, assim como sutrayana (veículo dos sutras) é outro nome para o mahayana. Cabe lembrar que o vajrayana não é uma escola separada do mahayana, mas ele em si é uma forma de mahayana, bem como contém os ensinamentos do Buda chamados algumas vezes de hinayana. A noção de yana não é semelhante a de tradição ou linhagem, mas é um conceito cumulativo de classificação dos ensinamentos do Buda.

2. ^ Aqui é possível identificar uma conexão com a ideia dos ideais espirituais do fascismo. Dzongsar Khyentse Rinpoche diz que o budismo é a forma mais profunda de anarquismo, e assim, o vajrayana é justamente o “budismo antifa”.


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