Uma Guirlanda de Pontos Essenciais
Sua Santidade Dudjom Rinpoche, Jigdral Yeshe Dorje (1904-1988), renascimento do grande revelador de tesouros Dudjom Lingpa, foi o líder supremo da tradição Nyingma. Poeta, autor de muitos livros, mestre de meditação e iogue tântrico, considerado um dos mais proeminentes eruditos de nossos tempos, foi um dos mais amados grandes lamas do Tibete.
Depois de estabelecer centros Yeshe Nyingpo Dharma em Kalimpong, Nepal, Europa e América, ele morreu em 1988 em Dordogne, na França, e seus restos foram dispostos em uma stupa num mosteiro em Bodhanath, Kathmandu, Nepal.
Coração-essência dos Grandes Mestres
Por Sua Santidade Dudjom Rinpoche
Lama raiz, gentil e precioso,
Senhor da mandala, único infalível refúgio duradouro,
Com sua compaixão, acolha-me!
Tenho esforçado-me somente por esta vida,
sem manter a morte em mente,
desperdiçando este livre e bem-dotado
nascimento humano.
A vida humana dura um instante, como um sonho -
Pode ser feliz, pode ser triste.
Sem desejar alegria, sem evitar tristeza,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Esta vida humana,
como uma lamparina ao vento -
Pode durar muito, pode não durar.
Sem permitir que a prisão do ego se intensifique,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Uma vida de luxo, como uma aparição enfeitiçadora -
Pode acontecer, pode não acontecer.
Com os modos dos oito darmas mundanos
Lançados como restos,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Todos estes subalternos, como um bando de pássaros numa árvore -
Podem me rodear, podem não me rodear.
Sem deixar que os outros me guiem pelo nariz,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Este corpo ilusório,
como uma casa podre de cem anos -
Pode durar, pode virar pó,
Sem flagrar-me esforçando-me para
conseguir comida, roupas ou remédios
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Este comportamento dármico,
como o jogo de uma criança -
Pode continuar, pode parar.
Sem ser enganado por coisas
que de fato não importam,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Todos esses deuses e espíritos,
como os reflexos do espelho -
Podem ajudar, podem prejudicar.
Sem perceber minhas próprias visões enganosas
como sendo inimigos,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Toda essa tagarelice confusa,
desconexa como um eco -
Pode ser interessante, ou pode não ser.
Com as Três Joias em mente, como testemunhas,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
As coisas que se mostram inúteis
em tempos de necessidade,
como os esgalhos de um gamo, -
Posso conhecê-las, posso não conhecê-las.
Sem dar confiança
apenas a artes e ciências,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Estes presentes e dinheiro dados pelos fiéis,
como veneno mortal -
posso recebê-los, ou não.
Sem desperdiçar minha vida
tentando acumular lucros vis,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Esta posição nobre, como cocô envolto em seda -
Posso possuí-la, posso não possuí-la,
Conhecendo minha própria podridão
de primeira mão.
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Amigos e família,
como viajantes que se reúnem numa feira -
Podem ser cruéis, podem ser amáveis -
Cortando do coração a resistente corda do apego,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Todas estas posses,
como as riquezas encontradas em um sonho -
Posso tê-las, posso não tê-las.
Sem utilizar de tato ou lisonjas para
convencer os outros,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Este posto na hierarquia,
Como um passarinho empoleirado num ramo -
Pode ser alto, pode ser baixo.
Sem me humilhar
ao desejar uma posição melhor,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Praticando os feitiços da magia negra,
como armas mortais -
Posso ser capaz de lançá-los, ou não.
Sem comprar a lâmina
que corta minha própria garganta,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Rezar muitas orações,
como um papagaio que diz
"om mani padme hum" -
Posso rezar, ou posso não rezar.
Sem gabar-me do que quer que eu faça,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
A forma pela qual ensinamos o darma,
como água corrente -
Posso ser hábil, posso não ser.
Sem pensar que mera eloquência é darma,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O intelecto que faz discriminações rápidas,
como um porco apodrecido -
Pode ser brilhante, pode ser tolo.
Sem permitir que as rebarbas
da raiva e do apego surjam,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Experiências de meditação,
como a água do poço no verão -
Podem aumentar, podem diminuir.
Sem perseguir arcos-íris como as crianças fazem,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Esta percepção pura,
como chuva no pico da montanha -
Pode surgir, ou não.
Sem tomar a experiência ilusória como real,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Estas liberdades e condições favoráveis,
como uma joia que preenche desejos -
Se não estão presentes, não há como
realizar o darma sagrado.
Sem desperdiçar o que já possuo,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O guru glorioso,
como uma lamparina
que ilumina o caminho da liberação -
Se não consigo encontrá-lo, não há
como conquistar a natureza última.
Sem pular de um despenhadeiro
quando sei por qual caminho prosseguir,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O darma sagrado,
como um remédio que cura doenças -
Se não o ouço, não há como saber
o que deve e o que não deve ser feito.
Sem engolir o veneno
quando posso distinguir benefício de malefício,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O ciclo mutável de prazer e dor,
como as estações do ano -
Se isto não é percebido, não há como renunciar.
Como tempos de sofrimento certamente virão,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O samsara,
como uma pedra que caiu fundo na água -
Se não sair agora, não sairei mais tarde.
Erguendo-me pela corda das compassivas
Três Joias,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
As boas qualidades da liberação,
como uma ilha de joias -
Se não são conhecidas,
não há como começar a se esforçar.
Percebendo a vantagem da vitória permanente,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
As histórias das vidas dos grandes mestres,
como a essência de amrita -
Se não são conhecidas,
não há como surgir confiança.
Sem escolher a autodestruição
quando posso distinguir a vitória do fracasso,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
A bodicita, como um campo fértil -
A não ser que seja cultivado,
não há como atingir a iluminação.
Sem ficar ocioso quando ainda há
muito a ser conquistado,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
A minha própria mente,
como as brincadeiras de um macaco -
Sem manter guarda, não há como
evitar as aflições mentais.
Sem agir imoderadamente, como um lunático,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O ego, como uma sombra com que se nasce -
Até que seja abandonado, não há como
atingir um lugar de felicidade verdadeira.
Quando o inimigo está em minhas garras,
porque tratá-lo como amigo?
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Os cinco venenos, como brasas entre cinzas -
Até que sejam destruídos,
não podemos descansar no estado natural.
Sem alimentar cobrinhas em meus bolsos,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Este fluxo mental,
como a pele dura de um saco de manteiga -
Se não é domado e suavizado,
não há como misturar mente com darma,
Sem mimar a criança que nasce por si só,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Estes maus hábitos arraigados, padrões cármicos,
como as fortes correntes de um rio -
Se não são eliminados,
não podemos evitar atos contrários ao darma.
Sem vender armas a meus próprios inimigos,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Estas distrações, como ondas intermináveis -
Se não são abandonadas, não há como ficar estável.
Quando posso fazer aquilo que mais gosto,
porque praticar o samsara?
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
As bênçãos do lama,
Como a primavera aquecendo o solo e a água -
Se não as absorvo, não há como
ser apresentado à natureza da mente.
Quando há um atalho,
Porque tomar o caminho mais longo?
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Este retiro desolado,
como o verão em um lugar exuberante
onde crescem ervas,
Se aqui não permanecer, não há como
as boas qualidades nascerem.
Quando estiveres no topo das montanhas altas,
não retorne aos vilarejos escuros.
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
O desejo pelo prazer,
como um espírito de má sorte entrando na casa -
Se dele não estou livre,
jamais pararei de trabalhar pelo sofrimento.
Sem fazer oferendas a fantasmas vorazes
como se fossem minhas deidades pessoais,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Atenção, como a tranca do portão de um castelo -
Se não existe,
não podemos parar os movimentos da ilusão.
Quando o ladrão virá certamente,
porque esquecer de trancar a porta?
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
A natureza última, imutável, como o céu -
Até que seja conquistada, não podemos
resolver todas as dúvidas da percepção.
Sem me deixar acorrentar por teorias,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Consciência, como um pedaço impecável de cristal -
Até que seja vista,
a meditação intencional não pode dissolver.
Quando há uma companhia inseparável,
porque procurar por outra?
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
A face da mente comum, como um velho amigo -
Se não é vista, tudo que fazemos é enganoso.
Sem procurar às cegas na escuridão
de meus próprios olhos fechados,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Em resumo, sem desistir
Das preocupações desta vida, não há como
realizar os ensinamentos sagrados após a morte.
Tendo decidido ser muito gentil comigo mesmo,
Possa eu genuinamente praticar
os ensinamentos sublimes.
Possa eu não desenvolver visões equivocadas
com relação ao guru
que me deu instrução de acordo com o darma.
Possa eu não perder fé no yidam
quando os infortúnios surgirem.
Possa eu não relaxar na prática
quando as circunstâncias forem difíceis.
Possa não haver obstáculos à conquista do siddhi.
Todas estas atividades são fúteis,
como fazer turismo num terreno baldio.
Todas estas tentativas
só tornam meu fluxo mental mais rígido.
Todo este pensar só adiciona confusão à confusão.
Tudo que parece darma às pessoas comuns
somente faz aumentar as amarras.
Tanta atividade - nada vem dela.
Tanto pensar - nenhuma finalidade nele.
Tanto querer - sem tempo algum.
Tendo desistido disto tudo,
Possa eu ser capaz de praticar
de acordo com as instruções.
Se preciso fazer algo,
possa o ensinamento do Buda servir de testemunha.
Se preciso fazer algo,
misturo fluxo mental e darma.
Se preciso realizar algo,
leio a história da vida dos mestres do passado.
Qual a utilidade de outras coisas? Fedelho mimado!
Pegue um assento baixo
e enriqueça de contentamento.
Diligentemente tente libertar-se
das oito preocupações mundanas.
Possam as bênçãos do guru entrarem em mim,
Possa minha realização se tornar igual ao céu.
Garanta suas bênçãos de forma que eu possa
alcançar o trono de Kuntunzangpo.
Sua Santidade Dudjom Rinpoche, Jigdral Yeshe Dorje
Escrito por Jigdral Yeshe Dorje como sua oração pessoal, condensando o significado essencial das palavras vajra de aconselhamento dos grandes mestres do passado.
Isto foi oferecido com orações pela continuidade das bênçãos de H.H. Dudjom Rinpoche, Jigdral Yeshe Dorje, e pela longa vida de sua emanação, pelo bem de todos os seres. Traduzido para o inglês por Bhakha Tulku Rinpoche e Constance Wilkinson, traduzido do inglês para o português por Padma Dorje (envie suas correções, sugestões e comentários).
Pureza do darma, cinismo e devoção
Algumas formas de pensar humanistas ou seculares não consideram possível uma pessoa atingir a remoção completa de seus defeitos e a expressão completa de suas qualidades, sem falha alguma. As pessoas que guardam essa ideia como dogma, não são bons candidatos ao refúgio budista. E, em particular, provavelmente não são o público alvo do vajrayana.
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As Poderosas Palavras Verdadeiras do Sábio, por Jamyang Khyentse Wangpo
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