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O ciclo de tesouros de Chokgyur Lingpa

This article has an English counterpart. (Este artigo tem uma versão em inglês).

Chokgyur Lingpa

Ensinamento concedido por Orgyen Tobgyal Rinpoche1Orgyen Tobgyal Rinpoche é primeiro filho do IIIo Neten Chokling. Seu mosteiro, Pema Ewam Chogar, fica em Bir, na Índia. em novembro de 1998 no Rangjung Yeshe Gomde, o centro norte-americano para os ensinamentos de Chokgyur Lingpa, em resposta a uma pergunta sobre Chokgyur Lingpa e seus termas.

Esta é a primeira vez que venho a este local nos Estados Unidos, criado especialmente para o estudo e a prática dos ensinamentos e termas de Chokgyur Lingpa. Já que estou aqui, acho que devo falar algo. Há alguns dias, Erik me disse que eu deveria falar especificamente sobre a tradição de Chokgyur Lingpa. Na verdade, não sei bem como falar sobre isso de forma específica, então direi o que me vier à mente.

De modo geral, são os ensinamentos de um buda que trazem verdadeiro benefício aos seres deste mundo. O propósito desses ensinamentos não é apenas beneficiar os seres humanos, mas trazer bem-estar e benefício a todos os seres sencientes das seis classes, em todos os lugares, num sentido tanto temporário quanto definitivo. Quando um buda se manifesta no mundo e ensina os outros, isso é chamado de “girar a roda do darma”. Ele ensina que a existência mundana é permeada pelo sofrimento. Há dor, há prazer. O que é ensinado é a realidade, a verdade de como as coisas realmente são. Um buda não inventa nada, não cria ideias sem tomar a realidade como base.

Para resumir os ensinamentos do Buda: “A existência no samsara tem uma natureza dolorosa; não é nada além de sofrimento. Embora exista prazer temporário nos reinos superiores — entre os seres humanos, semideuses e deuses —, esse prazer é apenas superficial, passageiro e, em última instância, a própria base para mais sofrimento”. Um buda também ensina que há um caminho para se libertar da existência samsárica. Existe um caminho para a liberação do samsara e para o estado onisciente da iluminação completa.

A libertação é possível porque todo ser senciente possui uma natureza que já é iluminada, uma natureza intrínseca a cada um. O que realmente é um buda já está presente, de forma básica, em todos os seres sencientes; não é algo novo que é criado por meio da prática. O próprio Buda disse que, após permanecer por incontáveis éons na existência samsárica, atingiu a iluminação. Temos o mesmo potencial. Após alcançar a iluminação, ele agiu pelo bem dos seres; isso também é possível para nós. O Buda ensinou a verdade sobre a existência e o caminho para a libertação. Ele apresentou diferentes abordagens — os três ou os nove veículos.

Ao começarmos a aplicar esses diferentes caminhos, é importante compreender que as cinco emoções venenosas sempre devem ser abandonadas, e não aprofundadas. O Buda ensinou como interromper as emoções perturbadoras, os cinco ou três tipos de venenos. Os meios para interromper essas emoções são encontrados nos “veículos inferiores”. Através desses métodos, as emoções não são destruídas, apenas interrompidas, para que não se intensifiquem nem se proliferem. Praticar tais ensinamentos significa aplicar um antídoto contra nossas emoções egocêntricas. Com o uso desse antídoto, torna-se possível alcançar a libertação. No entanto, como ainda se trata de um processo ativo, leva bastante tempo.

O Buda também ensinou um caminho no qual podemos fazer uso de nossas emoções. Em outras palavras, sem rejeitá-las ou suprimi-las, as emoções podem ser incorporadas e usadas como parte do caminho — um ponto-chave muito profundo. O Buda deu ensinamentos específicos para diferentes tipos de pessoas: para aqueles de natureza mais desejosa, para os mais agressivos, etc. Ele ensinou sobre a união e a liberação, entre outros métodos.

Os diferentes níveis de métodos são geralmente chamados de “os três veículos”: o veículo dos shravakas, o veículo do mahayana e o veículo vajra do mantra secreto. Graças à compaixão do Buda, esses ensinamentos surgiram neste mundo. Quando utilizamos um desses muitos caminhos, cabe a cada indivíduo alcançar a perfeição. Também existem muitos níveis de realização: para o caminho shravaka, o nível de um arhat, e assim por diante. No caminho do bodisatva, há diferentes níveis de realização e conquista. Para aqueles que embarcam no caminho do vajrayana, há o nível dos detentores do conhecimento, os vidyadharas, até alcançarem a realização suprema do detentor do conhecimento do mahamudra, entre outros.

Algumas pessoas praticam os três veículos juntos, em combinação. Esse tipo de pessoa é um praticante do conjunto completo dos ensinamentos do Buda. Aqueles que não fazem isso, que praticam apenas um dos três veículos e não os outros, não podem ser considerados praticantes da totalidade dos ensinamentos budistas. É possível praticar os veículos inferiores sem os superiores, pois são um caminho completo por si mesmos. No entanto, não é possível praticar os veículos superiores sem a base ou o suporte dos veículos inferiores.

Neste mundo, os ensinamentos do Buda se espalharam primeiro na Índia e, mais tarde, floresceram em muitos outros países, de diversas maneiras. Em alguns lugares, tanto os ensinamentos do sutra quanto do tantra foram praticados em sua totalidade; em outros, apenas uma parte deles. Tudo isso aconteceu em combinação com o mérito geral e as aspirações das pessoas nesses países.

Para nós, no Tibete, o Buda previu que as pessoas dessa região teriam grande mérito. Houve grandes reis tibetanos, como os três governantes ancestrais que eram Avalokiteshvara, Manjushri e Vajrapani em forma humana. Esses reis governaram vastos territórios com bondade e virtude. Entre eles, Trisong Deutsen se destaca como um rei de enorme determinação e influência. Graças à sua compaixão e aspirações, muitos grandes mestres foram convidados ao Tibete. Um dos primeiros mestres foi Shantarakshita, um grande bodisatva que ordenou os primeiros monges tibetanos. Seguindo seus passos, posteriormente, dezenas e centenas de milhares de monges e monjas seguiram o caminho monástico. Esse rei também organizou a tradução das palavras do Buda, o Tripitaka e todos os tratados, o Kangyur e o Tengyur, além de convidar grandes iogues realizados da Índia, incluindo Guru Rinpoche e Vimalamitra. Em particular, esses dois mestres haviam alcançado a grande realização da maestria sobre a expressão do estado desperto atemporal, algo que, na Índia daquela época, apenas poucos haviam conquistado.

Guru Rinpoche foi chamado de Segundo Buda, não apenas como um título, mas como um fato: ele foi um segundo Buda. Sua biografia descreve que, comparado a outros países, sua atividade em benefício do darma no Tibete foi muito maior do que em qualquer outro lugar. Embora tenha permanecido cerca de 60 anos no Tibete, ele ficou na Índia por muito mais tempo. Apenas para citar um local, ele permaneceu duzentos anos em Bodhgaya. Sua história de vida é algo que está além da compreensão das pessoas comuns. Existem diversas versões de sua biografia, e os relatos diferem quanto aos anos em que permaneceu em determinados lugares. Nas Crônicas de Kathang, é dito: “Milhares de versões diferentes da minha história de vida aparecerão para o benefício dos seres.”

Taranatha, o grande mestre Jonang, escreveu uma biografia de Padmasambhava baseada exclusivamente em fontes indianas. Ele rastreou a influência de Padmasambhava ao longo de todos os mahasiddhas da Índia e registrou suas descobertas. Se você ler esse texto, verá que não houve um único mahasiddha que não tenha sido aceito como discípulo de Padmasambhava. Cada um deles encontrou Guru Rinpoche, seja em sua forma física ou em seu corpo de sabedoria, e todos preservaram algumas das transmissões de seus ensinamentos. Se você ler as biografias mais extensas de Guru Rinpoche, descobrirá que somente na Índia ele tinha quarenta nomes diferentes, doze manifestações, entre outros títulos. Todas essas formas de Padmasambhava vêm da tradição indiana.

Um grande mestre como ele, um grande vidyadhara, detentor do conhecimento, veio pessoalmente ao Tibete. Lá, ele pacificou a terra, subjugando forças negativas. Consagrou os templos em Samye e concedeu iniciações e instruções. Tudo o que realizou durante seu tempo no Tibete está claramente descrito em detalhes em sua biografia. É amplamente conhecido, através dessas histórias, que no final de sua estadia, ele foi ao subcontinente sudoeste para subjugar seres selvagens. No entanto, ele retornou ao Tibete algumas vezes — por exemplo, Yeshe Tsogyal o convidou de volta uma vez para influenciar o filho mais novo do rei Trisong Deutsen. Em outra ocasião, ele foi chamado novamente e permaneceu por sete dias, não como uma visão, mas de forma real e tangível, de modo que outras pessoas puderam testemunhá-lo.

Ao longo dos séculos, houve um número imenso de mestres das quatro escolas — Nyingma, Kagyu, Sakya e Gelug — que trabalharam para o benefício dos outros e alcançaram realizações. Provavelmente, não há um único deles que, lendo as biografias, não se receba alguma bênção ou transmissão de Padmasambhava. Mesmo hoje, há pessoas que encontram o próprio Guru Rinpoche em pessoa, seja em sonhos, visões ou em suas experiências de meditação, recebendo iniciações e instruções ou simplesmente contemplando sua presença.

Embora as atividades de Padmasambhava sejam todas inconcebíveis, uma entre elas é verdadeiramente extraordinária: os ensinamentos terma. Esses termas foram ocultados para o benefício das gerações futuras e continuam a ser revelados muito tempo depois de sua estadia no Tibete. Os cinco principais tipos de terma são os do norte, centro, leste, oeste e sul, além do “Tesouro da Vida do Rei” e outros. Ainda existem termas a serem redescobertos, e alguns nunca serão retirados por ninguém. Guru Rinpoche também previu exatamente em que circunstâncias um determinado terton apareceria para revelar um tesouro específico. Ele garantiu que isso realmente aconteceria.

O primeiro terton foi Sangye Lama, que surgiu cerca de dois ou três séculos depois que Guru Rinpoche partiu para o subcontinente sudoeste. Entre ele e Chokgyur Lingpa, houve cento e vinte tertons importantes, todos emissários de Padmasambhava. Como você quer saber especialmente sobre Chokgyur Lingpa, darei uma breve explicação do significado de seus três títulos. Guru Rinpoche concedeu a ele três nomes simultaneamente: Chokgyur Lingpa como a base; Dechen Lingpa como o caminho; e Zhikpo Lingpa como a fruição. Existem biografias extensas, médias e curtas de Chokgyur Lingpa já disponíveis. Não precisamos explicar tudo em detalhes aqui; vocês podem ler os textos.

Primeiramente, Chokgyur Lingpa como base: Chokgyur significa supremo. Entre os mil Budas que aparecerão neste mesmo éon, Sangye Mopa será o último deles. Esse Buda será supremo no sentido de que, mesmo se você somar as atividades, ensinamentos, tempo de vida e qualidades dos primeiros novecentos e noventa e nove Budas, eles não igualarão o esplendor do último. O Buda declarou nos sutras que, quando o último Buda aparecer, até mesmo as atividades que ele realizar em um único estalar de dedos não poderão ser igualadas pelos outros novecentos e noventa e nove Budas juntos. Da mesma forma, em todas as grandes crônicas da vida de Padmasambhava, onde ele faz previsões detalhadas para o futuro, ele afirmou que Chokgyur Lingpa será o último dos grandes tertons a surgir para o benefício dos seres. Jamyang Khyentse Wangpo também disse que a atividade de Chokgyur Lingpa para beneficiar os seres, como o último dos cento e oito grandes tertons, não poderá ser superada por todos os outros juntos. Esse é o significado de Chokgyur, supremo.

Chokgyur Lingpa foi um só tertonm, mas recebeu simultaneamente três títulos de terton concedidos por Guru Rinpoche: Chokgyur Lingpa como a base, Dechen Lingpa como o caminho e Zhikpo Lingpa como a fruição. Todas as principais versões da história de vida de Padmasambhava relatam que Chokgyur Lingpa seria o último dos grandes tertons a aparecer para o benefício dos seres. Jamyang Khyentse disse que a atividade e o benefício de Chokgyur Lingpa, como o último dos 108 grandes tertons, foram ainda maiores do que os de todos os outros juntos. E isso se confirma pelos fatos.

Chokgyur Lingpa não ficou famoso até depois dos trinta anos, quando retornou a Derge vindo do Mosteiro de Palpung. Ele não era conhecido como terton até, aos trinta e um anos, revelar o Dzogchen Desum, as Três Seções da Grande Perfeição. E embora tenha falecido apenas dez anos depois, o que ele realmente realizou nesse curto período está muito além da compreensão de uma pessoa comum.

Durante esse curto período, ele não apenas revelou 36 ou 37 termas, mas muitas delas foram escritas e hoje estão editadas em quarenta volumes. Cada uma de seus termas é completamente autêntica; ou seja, qualquer pessoa educada e erudita que estude e examine de perto a substância e o significado de cada uma desses termas verá que elas são genuínas. Mas ele não apenas revelou termas, ele também transmitiu e deu continuidade a essas linhagens, concedendo iniciações e ensinamentos. Além disso, ele permaneceu em retiro por três anos, inaugurou vinte e cinco locais sagrados importantes, revelou mais de 100 estátuas de termas, realizou 120 drubchens e estabeleceu três centros principais de ensino e prática. É absolutamente impressionante! Portanto, considerando tudo o que ele fez, é preciso dizer que ele foi supremo.

Agora, sobre seus três títulos. O primeiro, Chokgyur Lingpa, refere-se à base. Aqui, Chokgyur significa “eminente”. Quando essa base se manifesta, então ele assume seu segundo nome, Dechen Lingpa, como o caminho. Aqui, “caminho” refere-se à aparição do terton no mundo e ao seu contato com os seres sencientes para guiá-los. Basicamente, refere-se à sua atividade de influenciar e guiar os seres, direta ou indiretamente.

É claro que outros tertons também tiveram muitas práticas essenciais, mas nenhuma parece ser tão concisa, clara, profunda e impressionante quanto as reveladas por Chokgyur Lingpa. Por exemplo, o tantra raiz de Tukdrub, o Sheldam Nyingjang, é tão vasto que não encontra paralelo nas revelações de nenhum terton anterior. Nesse tantra, Padmasambhava diz:

“No passado, antes deste momento, nos países da Índia, Nepal e Tibete, nunca dei um ensinamento tão profundo como este, nem mesmo ao vento. Onde quer que esta escritura seja guardada, esse local será indistinguível do campo búdico supremo de Akanishtha. Ele sempre será cercado e permeado por dakas e dakinis.”

Os termas de Chokgyur Lingpa são enriquecidos com sua própria experiência das instruções essenciais que ele recebeu de muitos grandes mestres. Isso significa que, nesses termas, encontramos conselhos-chave que nunca antes foram revelados — não os encontramos em nenhum outro lugar. Se alguém vier até você e disser: “Não há nada de especial nos termas de Chokgyur Lingpa”, basta responder com uma única pergunta: “Mostre-me algo como o Sheldam Nyingjang ou o Lamrim Yeshe Nyingpo; onde mais podemos encontrar algo assim?” E a questão se resolve ali mesmo! Porque não existem outros termas como o Lamrim Yeshe Nyingpo, e foi por isso que ele foi colocado como o volume de encerramento do Rinchen Terdzo.

Portanto, Chokgyur Lingpa é, sem dúvida, o maior revelador de tesouros. Embora tenha havido algumas objeções ou disputas sobre a veracidade de revelações de outros tertons no passado, não há menção em lugar algum de qualquer contestação às revelações de Chokgyur Lingpa.

Cada terma precisa ter uma base nos tantras, e Chokgyur Lingpa revelou não apenas os termas, mas também os tantras raiz. Jamyang Khyentse disse que os tantras devem estar conectados à iniciação, a iniciação deve estar conectada à sadhana, a sadhana deve estar conectada à aplicação, e a aplicação deve estar conectada às instruções orais. Dessa forma, há uma conexão quíntupla ensinada por Jamyang Khyentse. As linhagens para todos esses aspectos são ininterruptas.

Que “o tantra deva estar conectado à iniciação significa que o tantra explica como conceder a iniciação. Embora os tantras> sejam apresentados e ensinados por budas em nível sambhogakaya, como no campo búdico de Akanishtha, ainda assim não haverá conexão a menos que os discípulos sejam ligados a eles por meio do ato de iniciação. Da mesma forma, a iniciação deve estar conectado ao caminho pelo qual o que está sendo transmitido pode ser posto em prática (ou seja, a fase de desenvolvimento, a fase de conclusão, etc.). Portanto, a iniciação precisa estar conectado a uma sadhana. A sadhana precisa estar conectada à aplicação, ou seja, deve haver uma linhagem oral que explique como empregar a sadhana. E então, isso deve ser adornado com as instruções essenciais. Esses ensinamentos são muito mais do que um simples manual de instruções. O próprio Padmasambhava deu conselhos extraordinários sobre como utilizar esses ensinamentos profundos. Essa interconectividade é imensa, e ter todos esses aspectos completos é o que se entende por Dechen Lingpa como o caminho.

Além disso, para guiar os seres sencientes ao estado de iluminação verdadeira e completa, um terton, para ser verdadeiramente um grande terton, precisa possuir três terton, chamadas la, dzog e tuk. La é o guru yoga, dzog é o dzogchen, e tuk é o Grande Compassivo, Avalokiteshvara. Se um terton não possuir todos as três, então ele não é um grande terton, mas apenas um terton menor. No entanto, no caso de Chokgyur Lingpa, ele revelou muitos tipos diferentes de sadhanas de guru, muitos ensinamentos dzogchen e muitas sadhanas e ensinamentos de Avalokiteshvara. Assim, porque Chokgyur Lingpa, de fato, por meio de sua atividade, conecta os seres sencientes ao estado de iluminação, que é o estado da grande bem-aventurança, ele recebeu o nome Dechen, grande bem-aventurança.

Como fruição, seu nome é Zhikpo Lingpa. Zhik significa dissolver, destruir, e Zhikpo significa aquele para quem tudo – todos os conceitos mundanos deste mundo – se dissolveram, caíram, colapsaram; não apenas para si mesmo, mas para qualquer um que se conecte com seus ensinamentos do terma e os aplique. Tais indivíduos alcançarão o mesmo estado de verdadeira e completa iluminação, conhecido como ‘o colapso da confusão’. Em resumo, devido à base da eminência como fundamento, conectando-se com o caminho da grande bem-aventurança, todos os conceitos deste mundo, da ilusão, se desfazem e são totalmente obliterados.

Esta foi apenas uma breve explicação dos três títulos de Chokgyur Lingpa: Chokgyur Lingpa como fundamento, Dechen Lingpa como caminho e Zhikpo Lingpa como fruição.

Embora Chokgyur Lingpa fosse uma encarnação extraordinária desde criancinha, enquanto crescia, foi repetidamente aceito por Guru Padmasambhava e recebeu transmissões e ensinamentos em visões e assim por diante. Por meio de sua prática, ele atingiu um alto nível de realização. Diz-se que seu nível de realização era idêntico ao do mestre indiano Saraha. Sem qualquer esforço, ele era capaz de manifestar milagres, como voar pelo céu, ficar debaixo d’água por longos períodos. As pessoas o viam ficar debaixo d’água por uma hora, passar através de pedras sólidas, deixar o vajra e sino flutuando no ar e até mesmo voar. Ele realizou esses grandes milagres no Tibete Oriental, onde deixou impressões de suas mãos e pés e tirou termas de rochas sólidas. Muitos dos locais onde ele realizou esses milagres ainda podem ser visitados hoje.

Desde o momento em que Chokgyur Lingpa revelou seus ensinamentos até o presente, houve vários praticantes [de seus termas] que alcançaram o corpo arco-íris ao final de suas vidas. Outros praticantes alcançaram níveis elevados de experiência e realização para si mesmos e para outros a quem ensinaram, compuseram textos refutando visões contrárias e assim por diante. O número de pessoas que se beneficiaram, progrediram no caminho, alcançaram algum grau de realização e foram liberadas é incontável.

Todas as suas reencarnações e muitos de seus descendentes foram grandes mestres realizados. A filha de Chokgyur Lingpa, Konchok Paldron, teve quatro filhos, e se você refletir sobre seus exemplos de vida, atividades e número de alunos, é inconcebível – verdadeiramente impressionante!

Histórias, “a história”, geralmente são coisas inventadas por mortais comuns. Mas o que eu disse aqui não foi inventado por mim. Tanto o grande Jamyang Khyentse quanto Jamgon Kongtrul ensinaram isso. Até mesmo o próprio grande terton explicou da mesma forma que eu. Além disso, seus discípulos principais — houve vinte e cinco grandes detentores de sua linhagem —, pertenceram a todas as escolas do budismo tibetano, sem qualquer sectarismo. Todas as quatro escolas, sem exceção, aceitaram Chokgyur Lingpa como um mestre autêntico.

Não me entenda mal, não estou dizendo que outros ensinamentos e outras tradições não sejam especiais. Nem estou dizendo tudo isso apenas porque são os ensinamentos de meu pai. Tudo o que eu disse é comprovado por fatos reais e adornado com a experiência de instruções essenciais. Isso não é invenção minha. Os grandes mestres, Jamyang Khyentse, Jamgon Kongtrul e os próprios discípulos de Chokgyur Lingpa descreveram os ensinamentos de Chokgyur Lingpa dessa maneira e eu estou apenas repetindo o que eles disseram. Mesmo que eu tivesse uma opinião pessoal sobre algo, ela realmente não teria muito valor.

Quando o sol brilha, ele ilumina, dissipa a escuridão, traz calor e amadurece as coisas, e quando a lua cheia brilha em uma noite escura, você pode ver o caminho, e na estação quente, o luar é refrescante. Da mesma forma, Chokgyur Lingpa foi alguém que a maioria dos mestres aceitou ao simplesmente ouvir seu nome e se conectar com seus ensinamentos, sem qualquer disputa ou grande complicação.

Não só os termas raiz que Chokgyur Lingpa revelou são extremamente profundos e belos, mas Jamyang Khyentse e Jamgon Kongtrul escreveram muitos arranjos e textos adicionais, que são impressionantes e extremamente notáveis, absolutamente únicos.

Desde o tempo de Chokgyur Lingpa até agora, os tantras, declarações e instruções para esses ensinamentos, juntamente com suas linhagens, não foram quebrados ou danificados. Dois tulkus foram reconhecidos por Jamyang Khyentse e Jamgon Kongtrul e os dois foram discípulos dos dois Jamgons. Nunca houve uma única disputa, argumento, mal-entendido ou quebra de samaya entre essas duas encarnações, nem houve qualquer desarmonia entre os seguidores dessas duas encarnações. Os subsequentes detentores da linhagem e descendentes desses dois mestres têm sido todos grandes detentores de conhecimento, grandes vidyadharas – não há uma única pessoa comum entre eles! Tulku Urgyen Rinpoche já faleceu, mas seus filhos ainda estão vivos e um deles é um dos tulkus de Chokgyur Lingpa.2Tsikey Chokling Rinpoche faleceu em 2020, e era irmão de Chokyi Nyima Rinpoche, Tsoknyi Rinpoche e Mingyur Rinpoche, bem como pai de Phakchok Rinpoche. Aqui O.T. Rinpoche mostra a completa integração dos chokgyurpas (praticantes de Chokling Tersar) ligados aos dois ramos de renascimentos, o de Tsikey e o de Neten, este último, por linhagem biológica, o ramo do próprio O.T. Rinpoche. (N. do T.)

Eu não sei o que acontecerá com os ensinamentos do Chokling Tersar no futuro. Não sei se eles serão preservados ou desaparecerão ou se serão corrompidos. Isso depende do mérito da comunidade geral dos seres. Provavelmente seria melhor se eles não desaparecessem, porque quando tais ensinamentos estão presentes, trazem benefícios e felicidade para os seres sencientes. E quem sabe? Talvez nesta parte do mundo, os ensinamentos se espalhem e floresçam, certamente espero que o façam.

Traduzido ao inglês por Erik Pema Kunsang. Editores: Marcia Binder Schmidt e Michael Tweed. Traduzido ao português por Padma Dorje em março de 2025. Como o texto original não se encontra mais nem no site da Ranjung Yeshe Publications (onde foi primeiro publicado), nem no site de Orgyen Tobgyal Rinpoche, também mantenho a tradução em inglês neste website.


1. ^ Orgyen Tobgyal Rinpoche é primeiro filho do IIIo Neten Chokling. Seu mosteiro, Pema Ewam Chogar, fica em Bir, na Índia.

2. ^ Tsikey Chokling Rinpoche faleceu em 2020, e era irmão de Chokyi Nyima Rinpoche, Tsoknyi Rinpoche e Mingyur Rinpoche, bem como pai de Phakchok Rinpoche. Aqui O.T. Rinpoche mostra a completa integração dos chokgyurpas (praticantes de Chokling Tersar) ligados aos dois ramos de renascimentos, o de Tsikey e o de Neten, este último, por linhagem biológica, o ramo do próprio O.T. Rinpoche. (N. do T.)

esfera/sphere


Breve conselho de Sua Santidadetzal.org

Conselho de Kyabje Dudjom Rinpoche

Breve conselho de Sua Santidade
Trecho do livro “The Practice of Dzogchen”.tzal.org

Breve Explicação dos Doze Elos por Longchen Rabjam

Trecho do livro “The Practice of Dzogchen”.
Esta prece de Jamyang Khyentse Chokyi Lodro é um chamado urgente aos budas e mestres para que interajam no mundo em tempos de escuridão. Recitá-la é um ato de compaixão militante — não passivo, mas uma forma de participar da atividade iluminada.tzal.org

Prece para a Expansão dos Ensinamentos do Buda Onisciente

Esta prece de Jamyang Khyentse Chokyi Lodro é um chamado urgente aos budas e mestres para que interajam no mundo em tempos de escuridão. Recitá-la é um ato de compaixão militante — não passivo, mas uma forma de participar da atividade iluminada.
Oração de aspiração, e exemplo da prática, por Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpochetzal.org

Aspiração

Oração de aspiração, e exemplo da prática, por Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche


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