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O que é “realização” no budismo?

Mahasiddha Ghantapa voa pelo céu com sua consorte.

Mahasiddha Ghantapa voa pelo céu com sua consorte.

Vamos falar1Os elementos um tanto desconjuntados deste texto surgiram em três ou quatro conversas que mantive ao longo do mês de dezembro de 2018. de siddhis, druptchens e mendrup2As palavras siddhi, mahasiddha, amrita, sadhana, mudra, vajra, vajrayana, mahayana, hinayana, klesha, paramita, samsara e nirvana, encontradas nesse texto, são termos budistas em uma aproximação fonética do sânscrito, sem as marcas diacríticas que permitem a pronúncia castiça — são todos termos comuns reconhecidos por praticantes vajrayana, sendo os últimos também comuns no mahayana. Os demais termos presentes no texto e que não sejam inglês ou português estão em tibetano, normalmente em duas formas: numa versão fonética aproximada, e na transliteração de Wylie, em que cada elemento pictográfico do sistema de escrita silábico tibetano é incluído na forma de algum correspondente de som aproximado em alfabeto romano, porém sem buscar a preservação fonética do todo (a transliteração é usada para procura no dicionário e é também de fácil conversão para o sistema de escrita tibetano através de software específico). A versão tibetana dos termos quase sempre é uma composição de elementos semânticos próprios, o que nem sempre é o caso com o sânscrito, daí o interesse em destrinchar a terminologia em torno de drub, “realização”. — mas antes, uma breve discussão sobre o termo “realização” ser um falso cognato do termo inglês “realize” (ou “realise” em inglês britânico).

Um “falso cognato” ou “falso amigo” é um termo que soa ou é escrito semelhante a outro em outra língua, mas que tem um sentido diferente. A questão aqui é que a palavra “realize” em inglês, como a maioria das palavras, possui mais de um sentido. No sentido mais comum do termo usado em inglês, ele é de fato um falso cognato do termo “realizar” em português.

Por exemplo:

She realized it was raining.

Ela realizou percebeu/se deu conta que estava chovendo.

Isto é, esta acepção que diz respeito a reconhecer, perceber, se dar conta de algo, não está presente no termo de som similar em português “realizar”. É aqui que esse termo é um falso cognato.

Outro exemplo:

Everyone realized he was not fit for the job.

Todos realizaram reconheceram que ele não era/estava apto para o trabalho.

(Isto é, vieram a perceber algo que antes não percebiam.)

O outro sentido possível para o termo tanto em inglês quanto em português, em que temos aí portanto um cognato verdadeiro3Muitas palavras tem sentidos pseudo-cognatos, em que o sentido aproxima o sentido original, mas não é exato. Neste caso aqui, há um sentido em que a palavra é um falso cognato, e outro sentido em que ela é de fato um cognato. Num diagrama de Venn contendo os sentidos dos termos nas duas línguas, há tanto uma intersseção de sentidos, quanto um sentido que não existe em português (e que por acaso é o mais comumente usado). O fato de sabermos que esse termo tem um sentido em que é falso cognato com o português produz uma tendência para a hipercorreção, que é um termo técnico para o erro que ocorre justamente por excesso de cuidado com a língua. com a palavra “realizar”, diz respeito a conquistar, alcançar, tornar real, fazer acontecer — e ideias assemelhadas em termos do nome associado ao verbo, a “realização”.

She accomplished everything she set out to realize.

Ela realizou/atingiu tudo que ela se dispôs a conquistar/realizar.

(no exemplo, realize e accomplish são, portanto, sinônimos.4E, de fato, quando surge o termo accomplishment em inglês ele é talvez mais corretamente traduzido também como “realização”.)

Nos textos budistas traduzidos do inglês encontramos o termo “realize” nos dois sentidos, e em algumas vezes em posições ambíguas que só podem ser decididas com o entendimento do contexto e do texto como um todo.

Um exemplo ambíguo:

She realized the truth.

Ela realizou/percebeu a verdade.

Num contexto não budista, seria extremamente incomum encontrar a ideia de “realizar a verdade”, mas no contexto budista essa tradução em alguns casos pode fazer sentido. Isso vai depender totalmente de entender o que realmente está sendo dito, que é, de fato, o primeiro trabalho do tradutor.

Essa ambiguidade existe porque a tradição budista dá grande ênfase ao aspecto da cognição como efetivamente uma porta para a sabedoria, e a sabedoria sendo ela mesma algo não abstrato ou referencial, mas uma presença ou realidade — a verdadeira natureza das coisas é não só reconhecida pela sabedoria, é a própria sabedoria. A sabedoria é reconhecida, é conquistada, mas também é uma realização, ou uma realidade.

Em outros casos, o sentido não é ambíguo.

He reached the realization of all levels of the path.

Ele atingiu a realização de todos os níveis do caminho.

Ou

She then achieved ultimate realization.

Ela então atingiu a realização definitiva/última.

Em textos técnicos, particularmente do budismo vajrayana — mas isso pode ser facilmente estendido a outras formas de budismo — o termo realização é uma tradução do termo ‘grub e seus variantes grub, sgrub, bsgrub, etc. Todos são pronunciados drub ou drup (a grafia da pronúncia é apenas convencionada, e por vezes é assim, por vezes assado). Este termo surge nas palavras druptchen (grande realização, sgrub chen ou mahasiddha, grub thob); mendrup (remédio consagrado por prática de sadhana, sman sgrub, algumas vezes também chamado de dutsi [bdud rtsi] por ser uma forma de dutsi ou amrita); drubpa, drupthob (mahasiddha, sgrub pa, sgrub thob); druptrin ou drupthab (prática de sadhana, literalmente, “atividade de realização” e “meios de/para [atingir] realização”, sgrub phrin, sgrub thabs); tsedrup (sadhana de longevidade, tshe sgrub), e assim por diante — todos bem conhecidos de praticantes do vajrayana.

Muitas vezes achamos os termos do português inadequados para certos contextos do darma. Awareness em inglês, por exemplo, corresponde bem a alguns termos em sânscrito e tibetano. Mas em português não parece haver uma palavra tão boa. No caso de “realização”, no entanto, ao que parece temos em português um termo com amplitude semântica mais que adequada. É motivo de regozijo.

O termo implica atualizar o resultado, atingir ou conquistar o objetivo, ser bem sucedido [no que se está fazendo]. Claro, em se tratando de budismo, significa, por exemplo, receber uma bênção — obter uma facilidade ou qualidade ou vencer um obstáculo —, ou vencer uma aflição mental (um klesha, por um tempo, em uma única instância, ou definitivamente), ou obter a capacidade de efetivamente trazer benefício aos outros através da presença, da fala ou da intenção — ou mesmo através de atividades materiais, tais como se mover no mundo e fazer diversas atividades.

Há tanto um fascínio quanto um desprezo pela noção de siddhi (dngos grub, literalmente “realização explícita” ou “bem evidente”), como poderes mágicos ou milagres. De fato há dimensões extraordinárias, maravilhosas, ou fabulosas na realização budista. O próprio Buda, segundo os textos aceitos por todas as tradições budistas, manifestou demonstrações incomuns de suas realizações espirituais. Quando esse fascínio ou desprezo surge, há uma tentativa de normalizar a noção de realização, através de elevar, em detrimento de magias, por exemplo, o fato extraordinário de vencer uma única instância de raiva. Essa normalização não ocorre apenas perante pessoas modernas com seus obscurecimentos intelectuais e preconceitos específicos, mas também está no discurso de professores budistas do passado.

Isso quer dizer que há um bom argumento (também tradicional) em se desfazer do domínio mais mágico. Por um lado, o aspecto pé no chão, ligado a vencer os obstáculos do caminho e obter as qualidades que trazem benefício, é o que realmente importa. Do outro lado, se a pessoa tiver uma mente limitada ao ponto de ficar chateadinha com algum conteúdo mágico na tradição budista, isto é só a mente medíocre obstaculizando a mente de flexibilidade grandiosa. Como disse Gedun Chopel, em paráfrase, “nosso problema verdadeiro não é aceitar coisas extraordinárias, nosso problema é acreditar cegamente em coisas ordinárias”.

Como em muitas coisas no budismo, o que algumas vezes é tido como metafórico parece algumas vezes impedir a perspectiva de que as aparências comuns são formadas pelo exato mesmo tipo de hábito que permite as metáforas. Ao ver como metáfora, a dimensão da metáfora é reificada ao mesmo tempo em que a dimensão convencional, não metafórica é reificada — numa dupla perda. Explico melhor.

Os oito siddhis comuns ou mundanos são 1) voar como os pássaros, 2) saber de tesouros enterrados, 3) transmutação alquímica, 4) pés rápidos, 5) brandir uma espada encantada, 6) obter o remédio para o olho de conhecimento, 7) percepção extra-sensorial (clarividência), e o 8) domínio sobre humanos e não humanos. Como estamos falando do vajrayana, cada um desses siddhis possui de fato um domínio simbólico, mais importante, que também não exclui, de nenhuma forma, seu sentido mais prosaico — esse truque vajrayana de manter os dois domínios, simbólico e efetivo, sem nenhuma perda em nenhum lado, é bastante incomum na mentalidade contemporânea. Em outras palavras, as pessoas tem muita dificuldade com manter essa aparente dissonância cognitiva de sustentar tanto o metafórico quanto o convencional como meras aparências não reificadas.

Em contraposição aos siddhis comuns, que fora da motivação bodisatva e do controle das práticas vajrayana, são de fato obstáculos ao caminho espiritual, mais do que qualquer outra coisa — há também o siddhi extraordinário da realização espiritual propriamente dita, isto é, a iluminação. A iluminação é definida como a derrota definitiva de todas as aflições mentais em conjunto com a expressão completa, invariável e sem limites de todas as perfeições (paramitas) e qualidades incomensuráveis, tais como amor, compaixão, generosidade e foco meditativo.

Algumas vezes podemos pensar no siddhi extraordinário, a iluminação, como o “estágio da consumação” e (“grande consumação”) na sadhana, que é onde se obtém todos os siddhis. Essa consumação, como muitas coisas no vajrayana, tem uma conotação sexual (afinal, o grande selo, a realização, mahamudra, é também traduzível como “a grandiosa consorte” — a obtenção do parceiro para a prática), mas é claro que em seu sentido mais profundo, é a união de sabedoria e meios hábeis, isto é, o reconhecimento das coisas como elas são e a capacidade de ajudar os seres. O termo “grande consumação” é também, em tibetano, o dzogchen, os ensinamentos de ápice do budismo tibetano. Este termo é geralmente traduzido como “grande perfeição”, ou “grande completude”, e significa a própria iluminação, a atividade ou prática da própria iluminação, isto é, o siddhi extraordinário.

Entre as realizações mundanas, fora do caminho espiritual, podemos dominar uma arte ou ciência, aprender uma língua, nos capacitarmos para beneficiar os seres no escopo convencional do mundo. Essas são realizações mundanas ou comuns das práticas não espirituais. Em certo sentido, quando um líder do crime é muito bem sucedido, e obtém fama e fortuna, embora ele prejudique muito os seres, podemos dizer que ele é um “criminoso excelente”. Ele atingiu o máximo daquilo a que se colocou a fazer. Claro, isso não trará felicidade nem para ele, nem para ninguém, sendo, portanto, uma realização negativa. Podemos dizer que, infelizmente, isso existe também.

Em contraposição, conquistas mundanas, mesmo que benéficas para os seres, podem também ser obstáculos ao caminho espiritual. Digamos que uma pessoa seja muito bem sucedida, e trabalhe tanto e tão bem em sua área, e fique tão famosa e importante que se esqueça de ser generosa e praticar um caminho espiritual. Isso também é bastante comum e infeliz.

Dentro do escopo das pessoas que se aplicam num caminho espiritual, é apenas no vajrayana que siddhis comuns — poderes mágicos — são bem aceitos. Em todas as outras formas de budismo, eles são considerados distração para a prática, uma distração potencialmente tão perigosa que o próprio Buda adverte quanto a eles, e no hinayana e no mahayana chega a haver uma quebra de voto em praticar com o fim de atingí-los. No vajrayana, no entanto, há o reconhecimento de que, em alguns raros casos, os siddhis são necessários para ajudar alguns seres específicos.5Uma vez afirmei isto e um ouvinte colocou na cabeça que então precisava de uma demonstração de “efeitos especiais” do caminho budista, e que sem isso jamais se convenceria. Aqui eu acho que isso se trata apenas de materialismo espiritual. As boas qualidades dos professores e colegas de sanga devem ser suficientes para inspirar a maioria das pessoas, e uma pessoa esperando por algo extraordinário está apenas se colocando no caminho da frustração ou, pior, no caminho de ser conquistada por qualquer charlatão por aí que apresente um show mágico bem elaborado. Ou nem isso, como a gente vê em certos youtubers que obtém milhares de views posando de caça-fantasmas. Mas particularmente, a mente que é capaz de trabalhar com essa dissonância cognitiva e sem reificar o domínio simbólico ou o domínio convencional (e muito menos reificar o domínio último da verdadeira natureza das coisas), essa pessoa é o candidato ideal para a prática vajrayana. Daí um pouco também a ênfase nesse assunto algumas vezes acontecer.

A dimensão simbólica, ou metafórica, dos ensinamentos sobre siddhi é excelente e está bem presente no entendimento vajrayana. Voar, acima de tudo, por exemplo, significa bem-aventurança corporal durante a prática. Existe também uma realização ou siddhi de “atravessar paredes”, cujo sentido simbólico profundo é a capacidade de penetrar qualquer ambiente, elevado ou degradado. Nossa mente cria obstáculos para beneficiar seres porque temos nojo ou medo, e também porque algumas vezes nos sentimos inadequados em certos ambientes muito requintados, ou simplesmente não nos abrem as portas. O siddhi de “atravessar paredes” implica que tudo no samsara é criado pela mente, e que as paredes são nossas próprias incapacidades de lidar com certos ambientes — mais os ambientes criados pela mente do que qualquer coisa. Esse siddhi é a capacidade desimpedida de estar onde for preciso, e onde se quer estar para beneficiar os seres, sem qualquer obstáculo.

Alem disso, também é um siddhi que diz respeito a não ser afetado por nada. Não é tanto um “corpo fechado”, mas um corpo totalmente aberto. Os seres realizados no vajrayana — quando eles efetivamente repousam na realização dos três corpos, darmakaya, sambhogakaya e nirmanakaya como uma coisa só sem começo nem fim — manifestam corpos translúcidos e não sólidos. Não há como queimar ou esfaquear. A meditação nesse tipo de corpo nos ajuda a não solidificar as aparências, e isso é parte do estágio do desenvolvimento.

Quanto aos outros siddhis, pergunte a seu professor. Com certeza você se surpreenderá com seus sentidos simbólicos. E também com as histórias extraordinárias de suas manifestações, tidas como bem efetivas também em sua dimensão não simbólica, no corpus hagiográfico vajrayana.

Como se obtém os siddhis comuns e o extraordinário? Através da prática de sadhana, os meios para a realização. A prática de sadhana pode ser feita em grupo ou individualmente, ela é feita diariamente, num contexto cotidiano com um tempo separado para isso, e também é feita em retiros focados, em que se passa o dia todo praticando. Essa é a meditação por excelência do vajrayana — o roteiro preparado pela linhagem, que você, geralmente sentado com boa postura, recita e tenta aplicar em termos de visualização. Você também usa vários tipos de apoios tais como representações pictóricas ou tridimensionais de elementos da prática, instrumentos musicais, gestos (mudras), posturas e danças, e assim por diante.

Da mesma forma, um druptchen é uma “grande realização” em si, ou um “grande meio de realização” por vários motivos. Esta palavra se refere a práticas em grupo extremamente elaboradas. Apenas reunir as pessoas para praticar é uma realização, depois há a reunião das substâncias e dos meios de realização — a sadhana e os suportes. Há a reunião do mestre-vajra e da sanga vajrayana — que inclui seres humanos e seres de outros reinos, e que também inclui praticantes de várias classes, patronos, tradutores, mestres de ritual, ajudantes, praticantes que tocam instrumentos e dançarinos, e muitas outras categorias. Há a acumulação de mantra em grupo, e cada recitação de cada pessoa é interdependentemente acumulada por cada um dos participantes. 100 pessoas recitando 100 mantras cada uma delas possuem o poder de realização equivalente a 10.000 mantras para cada um. Uma semana de druptchen equivale a 3 ou 5 anos de retiro isolado. É por essas e outras razões que esse estilo de retiro é chamado de “grande realização”.

E também o “remédio” produzido durante essas práticas, o mendrup ou dutsi é interdependente com toda a virtude gerada — ele é um meio de realização (e conquista de siddhi) pelo sabor, como há realização pela visão, pelo toque, pela audição, e assim por diante.

Isso significa que a pessoa ingerindo esse remédio ou participando de um retiro desses se ilumina? Não, significa que o potencial para revelar completamente a iluminação aumenta, e que surge um encorajamento exponencial para a prática através das bênçãos, que são a própria fulgurância ou esplendor da linhagem se manifestando através da atividade viva da sanga.

No vajrayana, o resultado é tomado como base. Isso quer dizer que a realização não é colocada num momento futuro, a própria realização é o meio de realização. Você não senta para praticar com a perspectiva de que um dia aquilo vai funcionar, aquilo está funcionando na medida em que você senta para praticar com a perspectiva de que a realização não pode depender de causas e condições.

A própria prática então é uma expressão do reconhecimento do resultado como algo atemporal e inerentemente presente. É claro, oscilamos e vemos deste ou daquele jeito, e nossa prática tem altos e baixos — porém persistir na virtude extraordinária independentemente da riqueza ou da pobreza de nossa percepção sobre nós mesmos e o mundo é o próprio vajra.

No mahayana, o Sutra do Coração da Perfeição da Sabedoria diz que o bodisatva está além de realização e não realização. A exuberante manifestação desse destemor embasada no reconhecimento desimpedido de que essa verdade permeia igual e plenamente tanto samsara quanto nirvana é a peculiaridade do vajrayana.


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1. ^ Os elementos um tanto desconjuntados deste texto surgiram em três ou quatro conversas que mantive ao longo do mês de dezembro de 2018.

2. ^ As palavras siddhi, mahasiddha, amrita, sadhana, mudra, vajra, vajrayana, mahayana, hinayana, klesha, paramita, samsara e nirvana, encontradas nesse texto, são termos budistas em uma aproximação fonética do sânscrito, sem as marcas diacríticas que permitem a pronúncia castiça — são todos termos comuns reconhecidos por praticantes vajrayana, sendo os últimos também comuns no mahayana. Os demais termos presentes no texto e que não sejam inglês ou português estão em tibetano, normalmente em duas formas: numa versão fonética aproximada, e na transliteração de Wylie, em que cada elemento pictográfico do sistema de escrita silábico tibetano é incluído na forma de algum correspondente de som aproximado em alfabeto romano, porém sem buscar a preservação fonética do todo (a transliteração é usada para procura no dicionário e é também de fácil conversão para o sistema de escrita tibetano através de software específico). A versão tibetana dos termos quase sempre é uma composição de elementos semânticos próprios, o que nem sempre é o caso com o sânscrito, daí o interesse em destrinchar a terminologia em torno de drub, “realização”.

3. ^ Muitas palavras tem sentidos pseudo-cognatos, em que o sentido aproxima o sentido original, mas não é exato. Neste caso aqui, há um sentido em que a palavra é um falso cognato, e outro sentido em que ela é de fato um cognato. Num diagrama de Venn contendo os sentidos dos termos nas duas línguas, há tanto uma intersseção de sentidos, quanto um sentido que não existe em português (e que por acaso é o mais comumente usado). O fato de sabermos que esse termo tem um sentido em que é falso cognato com o português produz uma tendência para a hipercorreção, que é um termo técnico para o erro que ocorre justamente por excesso de cuidado com a língua.

4. ^ E, de fato, quando surge o termo accomplishment em inglês ele é talvez mais corretamente traduzido também como “realização”.

5. ^ Uma vez afirmei isto e um ouvinte colocou na cabeça que então precisava de uma demonstração de “efeitos especiais” do caminho budista, e que sem isso jamais se convenceria. Aqui eu acho que isso se trata apenas de materialismo espiritual. As boas qualidades dos professores e colegas de sanga devem ser suficientes para inspirar a maioria das pessoas, e uma pessoa esperando por algo extraordinário está apenas se colocando no caminho da frustração ou, pior, no caminho de ser conquistada por qualquer charlatão por aí que apresente um show mágico bem elaborado. Ou nem isso, como a gente vê em certos youtubers que obtém milhares de views posando de caça-fantasmas.

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