Latência e Economia da Atenção
Jakob Nielsen fala sobre o tempo de resposta na usabilidade de uma interface, e um décimo de segundo (1/10) entre click e resposta é o limiar para o usuário se sentir sob controle. Isso exclui todos os clicks que façam uma requisição http, isto é, todos os links na internet hoje. A primeira vista pode parecer que isso se refere apenas a conexões lentas, mas mesmo a conexão mais rápida depende de uma série de fatores fora do controle da nossa disponibilidade de pagar mais por um serviço melhor.
Do lado do desenvolvedor, a produção de código server side eficiente (php, python, perl, ruby), a diminuição da carga do html e dependências (hipertexto terso, imagens bem compactadas e no formato adequado, javascript e css sem excessos), a qualidade do serviço de hosting ou distribuição de carga em servidores (e a boa conexão com o servidor de dados, se separado), tudo isso diminui o tempo total de acesso a um site. Do lado do usuário, uma banda cada vez mais larga, dispositivos mais rápidos e melhoras nos browsers também melhoram significativamente a velocidade de acesso ao conteúdo.
Ainda assim, o diagrama acima mostra que, não interessa o quão pequenas, bem escritas e compactadas sejam suas páginas, o fantasma da latência está sempre presente — mesmo com o uso de ajax.
Wait for it...
O que causa a latência? A latência mínima é uma função da distância e da velocidade da luz — isto é, preservadas algumas teorias fringe da física quântica, não é possível transmitir informação mais rápido do que a luz. Em um milisegundo (1/1000), no vácuo, a luz viaja 300km. Assim o acesso a um único bit com zero tempo de processamento de qualquer servidor mais longínquo que 30.000km já ultrapassa o limite de Nielsen para que o usuário se sinta em controle (1/10). Esse tempo mínimo é menor (diria até 50%-80% menor) que o tempo que vemos os apresentadores de TV hesitarem ao responder uma teleconferência com outro apresentador — a informação não anda só pela terra, ela vai para o espaço e retorna, é bom lembrar. Na internet, mesmo considerando meramente a distância, a situação é muito mais caótica: praticamente não existem linhas "retas" na internet: você sempre faz a baldeação por um, dois, três ou mais servidores (e possivelmente um satélite) antes de fazer a requisição "hey, me copie essa página para esse computador que estou usando", e assim começar a carregar a página. Mas, muito pior do que isso, a distância é o de menos: todos os dispositivos pelos quais a informação passa possuem algum tempo, ainda que diminuto, de processamento e resposta — e eles podem estar sobrecarregados naquele momento ou não. Assim a latência é uma função da soma das latências de todos os dispositivos envolvidos (e podem haver centenas deles), do volume de tráfego em qualquer um desses dispositivos no momento em que ele é requisitado, e enfim, da distância e dos meios físicos envolvidos (que não são o vácuo!).
A latência é algo tão importante que numa palestra no TED Kevin Slavin afirma, entre muitas outras coisas assustadoras e escabrosas, que as empresas que lidam com bolsa de valores em NY pagam caro para instalarem seus servidores ao lado do hotel onde está o principal backbone1Conexão principal de entrada da internet para uma região. da cidade. Na briga de computadores do videogame da bolsa, um milésimo de segundo pode representar a perda de muito dinheiro — já que alguém com acesso mais rápido compra as ações antes2O mais incrível é que essas decisões são tomadas por algorítmos, já que nenhum ser humano consegue pensar tão rápido — em outras palavras, a bolsa é uma batalha de estratégias de programação e matemática, absolutamente desvinculada de considerações humanas. A própria pessoa que programa os algorítmos pode ser diretamente prejudicada por uma externalidade advinda de fatores não previstos na luta entre máquinas, e pode nem ser capaz entender o que a atingiu nem fazer nada a respeito.
Nós não estamos nessa situação, de colocar máquinas para correr pela melhor especulação, mas nossa cultura de déficit de atenção e hiperatividade nos exige respostas o mais imediatas possíveis, porque em 10 segundos de espera o seu público vai estar focado em outra coisa — e sabe-se lá quando ele vai retornar.
A mais rara e cara commodity
Na noção de economia da atenção, a atenção é um bem escasso. Cada vez mais escasso. Esse é o elemento principal a ser considerado na produção de conteúdo — você precisa produzir algo relevante, mas não só isso, produzir algo relevante num contexto que
A revolução da atenção
E assim chegamos ao elemento final, e mais importante, desta análise. Se temos duas máquinas (servidor e cliente) e duas mentes (programador e usuário), a eficiência em termos da "latência" na cognição do usuário — nós, que em todos os casos sempre somos mais usuários do que produtores de informação — é uma função de aprimoramento metodológico. Um método é a prática de meditação, que tem dois objetivos principais: refinar e flexibilizar a mente. Muitas vezes apenas o aspecto do refinamento é enfatizado, isto é, a capacidade de não se desviar do objeto. Nos desviamos do objeto por duas razões principais: um objeto mais interessante nos atrai ou perdemos interesse no objeto em questão. Mais do que essas duas tendências grosseiras, há, permanecendo no objeto, tendências de distração e torpor sutis correspondentes a estas — numa metáfora com a máquina fotográfica, nossa mente perde, em cada caso, estabilidade ou abertura do diafragma (menos luminosidade alcança o receptor fotossensível da imagem).
Agora, o segundo ponto, o da flexibilidade, é pouco popularizado. Na verdade ele equivale a tomar as rédeas de um cavalo — é o usuário com eficiência de usabilidade de seu próprio aparato cognitivo. Esse ponto é similar a um gerenciamento de prioridades, e tem consequências éticas, estéticas e, claro, epistêmicas.
Nos dias de hoje a educação não começa pelo refinamento dos instrumentos epistêmicos de uma forma mais geral3Podemos dizer que a cultura ocidental nunca prezou este refinamento de forma generalizada, mas, em um sentido grosseiro, até mesmo a etiqueta de saber ouvir e quando falar, e de manter uma postura adequada em público, são (ou foram) uma função da educação na família e nas instituições — e elas dizem respeito a um refinamento do aparato cognitivo, que inclui não só atenção, mas atenção empática, e a capacidade de reconhecer a "teoria da mente" do outro., ou pelo estabelecimento de critérios heurísticos próprios que permitiriam a tomada das rédeas da cognição4Se você achou complicado o diagrama acima, não pense que o procedimento de depuramento da cognição seja menos complicado. Felizmente, muitos meditadores cientistas passaram muitas milhares de horas no laboratório da mente — e eu não quero mencionar a tradição budista, mas já mencionei., mas pelo incessante suceder de latências burocráticas — não é de admirar que a sala de aula não tenha mais relevância alguma.
1. ^ Conexão principal de entrada da internet para uma região.
2. ^ O mais incrível é que essas decisões são tomadas por algorítmos, já que nenhum ser humano consegue pensar tão rápido — em outras palavras, a bolsa é uma batalha de estratégias de programação e matemática, absolutamente desvinculada de considerações humanas. A própria pessoa que programa os algorítmos pode ser diretamente prejudicada por uma externalidade advinda de fatores não previstos na luta entre máquinas, e pode nem ser capaz entender o que a atingiu nem fazer nada a respeito
3. ^ Podemos dizer que a cultura ocidental nunca prezou este refinamento de forma generalizada, mas, em um sentido grosseiro, até mesmo a etiqueta de saber ouvir e quando falar, e de manter uma postura adequada em público, são (ou foram) uma função da educação na família e nas instituições — e elas dizem respeito a um refinamento do aparato cognitivo, que inclui não só atenção, mas atenção empática, e a capacidade de reconhecer a "teoria da mente" do outro.
4. ^ Se você achou complicado o diagrama acima, não pense que o procedimento de depuramento da cognição seja menos complicado. Felizmente, muitos meditadores cientistas passaram muitas milhares de horas no laboratório da mente — e eu não quero mencionar a tradição budista, mas já mencionei.
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Documentários e filmes sobre seitas e gurus falsos
No livro Feet of Clay (“Pés de Barro”) Anthony Storr examina as características psicológicas que levam ao extremo carisma combinado com comportamento narcisista, psicopata ou criminoso de vários líderes (especialmente religiosos, mas não só). Aqui recomendo alguns documentários sobre seitas bizarras e líderes patológicos.
O Bate-Papo do Caroço de ir Além do Cair-a-Ficha
Xaribão-Sangue-Bão intima Tô-Ligado-nos-Gemido-do-Mundo pra dar umas reais. Texto de 1996, em Memórias do Neto de Dacum o Aborígene (outrora intitulado “c1ber%amanism0”), e não me digam que não me esforço para popularizar o darma!
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