Jack Kerouac e o Budismo
“Você já leu Os Vagabundos do darma (The Dharma Bums), de Jack Kerouac? Qual é, afinal, a relação desse livro com o darma budista?”
A obra reflete o fascínio inicial de Kerouac pelo budismo nos anos 1950, um interesse que ele manteve por cerca de uma década — até pouco antes de sua morte, no final dos anos 1960. No entanto, seu entendimento do budismo era bastante superficial e, em muitos aspectos, distorcido. The Dharma Bums (Os Vagabundos Iluminados numa escolha boa LP&M) pertence justamente a essa fase de encantamento, quando ele teve contato com alguns textos budistas, mas sem um estudo aprofundado ou orientação adequada.
Kerouac nunca praticou formalmente sob a tutela de um professor qualificado (com exceção de um contato limitado com as palestras de D.T. Suzuki - importante ressaltar que ele não era um mestre budista reconhecido, mas sim um intelectual cristão sem formação prática no budismo. Suas interpretações são consideradas problemáticas por muitos estudiosos). Kerouac também não frequentou grupos de prática ou aprofundou-se nos ensinamentos tradicionais. Seu budismo era mais literário e romantizado do que experiencial.
Já Allen Ginsberg, outro expoente da Geração Beat, teve um percurso diferente: nos anos 1970, ele consolidou seu entendimento do budismo, estudou com um professor qualificado (Chögyam Trungpa Rinpoche) e tornou-se um praticante comprometido. Mesmo assim ele nunca escreveu com propriedade ou profundidade sobre o darma, o que é uma postura respeitável, considerando que ele não era um professor.
Quanto a Os Vagabundos Ilumninados, não recomendo tomá-lo como uma referência confiável sobre o darma. O livro é, antes de tudo, um registro do entusiasmo de Kerouac e de outros beats pelo tema — e não uma exploração fiel dos ensinamentos budistas. Um dos personagens centrais, por exemplo, é inspirado em Gary Snyder, que de fato viveu no Japão, estudou zen e se tornou um praticante sério (e ainda hoje, já nonagenário, é reconhecido por seu conhecimento). No entanto, mesmo Snyder, nos anos 1950, estava em fase de aprendizado, e sua representação no romance é claramente caricaturada pela visão poética e idealizada de Kerouac.
Em resumo: o livro é um documento cultural fascinante, mas não uma porta de entrada confiável para o budismo. Se o interesse for o darma de verdade, há fontes muito mais sólidas.
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