Conselho de Tromge Tulku Arik
Kye ma! Você, nascido ao final da era degenerada,
Que, como eu, está perdido,
Contemple fundo,
E assume as rédeas dos próprios pensamentos.
Não procrastine.1“Não procrastine” está aqui traduzindo ha'o mi byed, que não é encontrado em dicionários, mas pode ser inferido significar algum tipo de “não se largue”. Ha é muitas vezes onomatopéico e se relaciona a rir ou ao som da expiração. Quando estiver
à beira da morte, será tarde demais.
Lembre o bondoso guru,
e com ondas de lágrimas assoberbando,
Com devoção intensa, chore,
“Por favor, estenda sua mão caridosa e me resgate do abismo!”
Tomado de carma ruim, um leão destituído de qualidades2“Um leão sem qualidades” traduz gnyis med seng ge literalmente “leão sem as duas (erudição ou realização, ou qualidades espirituais e mundanas).” Parece ser uma expressão para um praticante que não desenvolveu conhecimento, meditação e conduta profundos e autênticos. Jamyang Khyentse Wangpo usa a mesma expressão em seu lo rgyus shel gyi phreng ba, onde ele diz, bshad sgrub gnyis med seng ge'i gzugs brnyan gyis (“A aparência enganadora de um leão que não possui estudo ou prática...”) O ponto parece ser que o estilo de vida de um leão parece um pouco com o de um iogue, porque fica isolado na montanha; porém, não tem as qualidades de erudição e meditação que um iogue deveria ter.
Se descobre sob o martelo pesado das oferendas que corrompem.3“Oferendas que corrompem” (dkor) é um termo importante para dinheiro e riqueza oferecidos a um lama com a expectativa de que serviços espirituais sejam realizados em troca. Esse tipo de troca pode ser extremamente insidiosa, prendendo o lama em responsabilidades cármicas muito pesadas. Tulku Arik era famoso por permanecer em retiro estrito a maior parte da vida de forma a evitar esse tipo de armadilha.
Depois do autoexame,
Não há como ficar tranquilo, não é mesmo?
Só sobra tempo para distrações.
Meses e anos que passamos cultivando apenas maldade
Matando seres a quem somos conectados para obter coisas como comida e vestimentas.4O tibetano diz mais literalmente, embora fique esquisito em português, “ligados por alimentos e roupas e assim por diante”, que se assume se refira aos animais que se prejudica ao comer e vestir. Estas duas linhas parecem se referir de forma geral ao ensinamento sobre o modo de vida correto — a atenção que o budista deve ter ao seu comportamento econômico.
De nosso lugar solitário no inferno
Não encontraremos liberdade por muitos eons.
Tendo acumulado uma montanha enorme
de ações tóxicas desse tipo,
Podemos pensar,
“Mas e se eu morresse agora mesmo?”
Os resultados de nossas próprias ações,
o carma pesado que nos afunda —
Se hoje não aguentamos nem uma fagulha de sofrimento,
Como vamos nos sentir no inferno?
Sem o caminho do darma sagrado,
Os ensinamentos e sua mente
vão se chocar como o fogo e a água.
Tendo se desviado desta forma,
Quando algumas posses ilusórias são perdidas,
Vem o choro, "Ah, que tragédia!"
Mas o que seria mais trágico do que
cortar a raiz da liberação?
Uma vez que não se age de forma autêntica,
e não se demonstra preocupação para com as vidas futuras,
Então, nesta vida e nas próximas,
o sofrimento só aumentará cada vez mais.
Quando a abordagem com relação a prática do darma
é superficial e pretensiosa,
isso engana uma só pessoa: você mesmo.
Algo poderia ser pior do que isto?
Pode ser que você siga por aí declarando,
“Tenho o nobre desejo de beneficiar os outros,”
Mas com essas pretensas palavras gentis encobrindo a dureza de sua mente,
Será difícil surgir bodichita.
Você pode andar por aí ostentando a bandeira
de uma suposta visão elevada,
Mas de que serve essa sua visão,
misturada com a proliferação de venenos mentais?
Quando você está feliz, bem alimentado, e relaxando ao sol,
Até parece que você é um praticante.
Mas quando as coisas ficam difíceis,
Qual é a diferença entre você e alguém bem comum?
Sua visão encoberta por névoa,
Sua meditação uma bandeira batendo ao vento,
E suas ações boas sempre misturadas com ações más —
O resultado disso tudo é uma âncora para existências infelizes.
Assim, tenha um pouco
De amor e compaixão por si próprio
Para que não tenha que arrancar a pele do peito em desespero,
no dia que você morrer.
Enquanto você segue para uma nova vida, o horizonte e o sol nascente,
São as próprias deidades e o guru.5Uma referência ao bardo do darmata.
Sem passar vergonha das três formas,6“As três formas de não passar vergonha” ma khrel gsum são associadas com os compromissos samaya do Yoga Tantra, e estão ligados à confiança meditativa que um praticante deve ter ao entrar no bardo do darmata. Elas são: (1) não ter vergonha na presença da deidade yidam, (2) não ter vergonha na presença do guru e dos irmãos vajra, e (3) não ter vergonha diante de nossa própria mente. (TC 247)
E o coração cheio de bondade,
Se você estiver praticando diligentemente os ensinamentos sobre a morte,
Que bondade isso não será para você mesmo.
Eu, Arik, destituído de darma, sem refinamento
Tive essa conversa comigo mesmo.
Se houver alguém por aí que seja como eu,
Rezo que eles realizem os ensinamentos sobre a morte.
Traduzido ao inglês por Joseph McClellan em 2024. Traduzido ao português por Padma Dorje em 2024, da versão 1.0-20240528 encontrada no site Lotsawa House.
Bibliografia
rGyal rtse arya de ba. Ya chen o rgyan bsam gtan gling gi chos ʼbyung, pp. 222–224. Par gzhi dang po. [S.l.]: [S.n.]. BDRC W3CN5423.
Jamyang Khyentse Wangpo ('jam dbyangs mkhyen brtse’i dbang po). lo rgyus shel gyi phreng ba. https://khyentselineage.tsadra.org/index.php/JKW-KABAB-03-GA-006-wylie
1. ^ “Não procrastine” está aqui traduzindo ha'o mi byed, que não é encontrado em dicionários, mas pode ser inferido significar algum tipo de “não se largue”. Ha é muitas vezes onomatopéico e se relaciona a rir ou ao som da expiração.
2. ^ “Um leão sem qualidades” traduz gnyis med seng ge literalmente “leão sem as duas (erudição ou realização, ou qualidades espirituais e mundanas).” Parece ser uma expressão para um praticante que não desenvolveu conhecimento, meditação e conduta profundos e autênticos. Jamyang Khyentse Wangpo usa a mesma expressão em seu lo rgyus shel gyi phreng ba, onde ele diz, bshad sgrub gnyis med seng ge'i gzugs brnyan gyis (“A aparência enganadora de um leão que não possui estudo ou prática...”) O ponto parece ser que o estilo de vida de um leão parece um pouco com o de um iogue, porque fica isolado na montanha; porém, não tem as qualidades de erudição e meditação que um iogue deveria ter.
3. ^ “Oferendas que corrompem” (dkor) é um termo importante para dinheiro e riqueza oferecidos a um lama com a expectativa de que serviços espirituais sejam realizados em troca. Esse tipo de troca pode ser extremamente insidiosa, prendendo o lama em responsabilidades cármicas muito pesadas. Tulku Arik era famoso por permanecer em retiro estrito a maior parte da vida de forma a evitar esse tipo de armadilha.
4. ^ O tibetano diz mais literalmente, embora fique esquisito em português, “ligados por alimentos e roupas e assim por diante”, que se assume se refira aos animais que se prejudica ao comer e vestir. Estas duas linhas parecem se referir de forma geral ao ensinamento sobre o modo de vida correto — a atenção que o budista deve ter ao seu comportamento econômico.
5. ^ Uma referência ao bardo do darmata.
6. ^ “As três formas de não passar vergonha” ma khrel gsum são associadas com os compromissos samaya do Yoga Tantra, e estão ligados à confiança meditativa que um praticante deve ter ao entrar no bardo do darmata. Elas são: (1) não ter vergonha na presença da deidade yidam, (2) não ter vergonha na presença do guru e dos irmãos vajra, e (3) não ter vergonha diante de nossa própria mente. (TC 247)
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