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Acumulando Méritos


A primeira coisa que devemos fazer ao partir para a coleta de qualquer mérito é estabelecer a motivação. Paramos por um momento para lembrar que estamos acumulando méritos não só para que as condições sejam menos difíceis, e especialmente para que se consiga ouvir, entender e praticar o darma, mas para que todos os seres encontrem contentamento.

Por exemplo, não é darmicamente condenável querer ter dinheiro. Apenas será errado querer ter dinheiro se essa for uma prioridade, ou se a pessoa mantiver apego ou fixação egoísta a este dinheiro. Uma pessoa com mais dinheiro pode oferecê-lo generosamente, e assim pode ajudar os outros de uma forma bem direta. Então consideramos como seria ser afortunado porque poderíamos ajudar mais amplamente os outros, não por outras razões.

Da mesma forma, não é errado querer encontrar boas condições, especialmente se nossa prioridade é a prática espiritual. Boas condições é o que nos permite tempo de vida, saúde e tempo livre para praticar o darma. Também nos permite abertura e uma cognição aguda e disponível para examinar os ensinamentos com boa vontade e chegar a conclusões sobre eles.

Isto é uma ideia semelhante a forma correta de acumular méritos dentro de um plano relativo. A virtude, nessa perspectiva, pode ser encarada como uma espécie de moeda, porque permite certas liberdades. Existe ainda uma “acumulação” absoluta de méritos, que é o não desviar-se do estado desperto, mas esta é necessário aprender de um professor qualificado e através da prática de meditação que ele lhe aconselhar. De todo modo, em qualquer caso, estas coisas sempre operam em conjunto, mérito sem sabedoria produz apenas mais samsara, e sabedoria sem mérito é impossível.

...

Ao fazer qualquer coisa, é importante lembrar de que aquilo não é apenas para você. Quando for apenas para você, pense em como poderia fazer de forma que fosse melhor para todos. Quando for ao banheiro ou jogar comida no lixo, pense que seus excrementos e restos alimentarão bactérias e outros seres. Quando falar, fale de uma forma que seja adequada e ajude os outros, e ofereça boas palavras em sentido e intenção. Tudo que você pensar de agradável, pense “que os Budas, Bodisatvas e os seres dos seis reinos possam usufruir disto”. Tudo que você experimentar de agradável, idem.

Quando der comida a uma pessoa ou animal faminto, pense “que em todas as pessoas surja o pensamento sublime da generosidade”. Quando cometer erros, pense “que todos fiquem livres das consequências deste erro, e que não cometam erros semelhantes”. Todas as circunstâncias são adequadas para a prática de acumulação de méritos. Quando teclar ao computador pense “que todos possam ver com boa intenção estas palavras e sejam compelidas a aplicá-las em suas vidas até que encontrem contentamentos temporários e liberdade definitiva”.

Quando você vir uma pessoa ganhando 500 mil reais num programa de TV, não pense “ele não merecia” ou pense no que faria (para si e para a família) com os 500 mil reais se fosse você — ou desenvolva aversão pela TV — assim por diante. Pense “que ele obtenha contentamento com este dinheiro, e que muitos possam se beneficiar através dele”.

Ao se regozijar com a felicidade dos outros, por pequena ou tola que seja ou pareça, você está também acumulando mérito.

Com relação a acumulação de méritos, temos três tipos de oferendas e dois tipos de recipientes.

O melhor recipiente é um grande praticante, ou ser de sabedoria, que saberá aplicar sua oferenda de forma a trazer o maior benefício espacial ou temporalmente. Por isto fazer oferendas a centros de darma e mestres espirituais é o que produz maior acumulação de méritos.

O segundo melhor recipiente é um ser senciente. Ele obterá certo contentamento de sua oferenda, mas em geral não terá sabedoria para transformar e ampliar este contentamento de forma que atinja muitas pessoas num âmbito longo de tempo. Por exemplo, você poderia dar dinheiro para alguém construir uma casa. Aquela casa pode durar uma ou duas gerações e beneficiar aquela família por algum tempo. Agora, se você doa dinheiro para a consturção de um templo, isso pode durar muito mais e trazer muito mais benefício para muito mais pessoas. Digamos que um templo tenha sido construído para durar 500 anos ou mais — quantas obras por aí atualmente vemos ser construída para durar 500 anos? Templos budistas são pensados nessa dimensão, o que já nos libera de muitos apegos possíveis a essa vida tão curta.

De qualquer forma, oferecemos o que quer que tenhamos incessantemente aos seres que se apresentam. Oferecemos nossa presença, nossa fala, nosso trabalho, nossas posses, nosso corpo, assim por diante.

Os três tipos de oferendas são:

• Prática espiritual, que é a melhor oferenda. Se nos tornamos um exemplo da liberdade completa que um ser humano pode usufruir, como no caso do Buda, esta é a maior oferenda que podemos oferecer, e portanto é a mais digna e a que mais devemos nos esforçar para desenvolver, caso ainda não a tenhamos para oferecer.

• A segunda melhor oferenda é trabalho, esforço físico ou intelectual que promova o darma ou o bem-estar temporário dos seres. A promoção dos ensinamentos espirituais é evidentemente mais meritória do que o simples bem-estar temporário dos seres. Devemos nos aplicar na oferenda de ambas as formas de trabalho.

• A terceira melhor oferenda é de bens, dinheiro ou objetos físicos.

Por exemplo, alguém está aqui explicando isto a você, então temos as palavras em si, que podem ser armazenadas e lidas. Esta é uma oferenda física. Também há o gasto com a conexão da internet, com o desgaste do computador etc. Essas coisas todas são oferendas materiais. Também estou colocando meu tempo e aplicando minha inteligência para explicar isto. Portanto é uma oferenda de trabalho.

Quanto a oferenda de prática, se isto aqui for efetivo e aplicado por todos que entrarem em contato, ela não terá sido em vão. E eventualmente poderemos todos usufruir de uma terra pura e atingir a buditude simultaneamente.

Caso a pessoa que lê isto tome de uma maneira mais convencional o que estou dizendo, ela também obterá certo benefício, mas se ela for capaz de aplicar isto efetivamente de uma maneira ampla, então neste caso trata-se de um grande praticante espiritual, e a oferenda atinge seu ápice. Não desperdicemos esta oportunidade.

Mesmo que estas palavras sejam imperfeitas e a minha motivação de praticante iniciante seja flutuante, na medida em que isso efetivamente trouxer benefício, então isso pode se tornar, além de uma oferenda de trabalho e material, também uma oferenda de prática espiritual.

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Após acumularmos os méritos, fazemos a “dedicação”. Ou seja, entregamos sem pestanejar nossas acumulações para benefício de todos os seres.

Isso é obtido através da realização do vazio, da ausência de um “eu” ou essência inerente de uma identidade, o destemor de Prajna. Não há uma pessoalidade que acumula os méritos — e assim seríamos capazes de entregar nosso próprio corpo como alimento aos seres.

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"Ao longo de todas minhas incontáveis experiências, cada fenômeno com que me deparei, inclusive estas palavras e o que quer que surja depois disto, ofereço a todos os seres. Que através dessa virtude todos os seres possam atingir completa liberdade e satisfação temporária. Que toda dor cesse enquanto a compaixão floresce. Possa eu nitidamente vivenciar a qualidade onírica de cada fenômeno, instantaneamente despertando para sua manifestação inata de sabedoria. Possa eu rapidamente alcançar completa liberdade sem esforço, de forma que minha desimpedida expressão incessante beneficie a todos."

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