28. Dhombipa
O Lavador Sábio
Desde o tempos imemoriais tenho limpado as máculas,
Mas não posso fazer o carvão ficar branco.
Os preceitos do Guru são o dhobi supremo,
Pois eles revelam nossa natureza vazia imaculada.
Na cidade de Saliputra havia uma família casta dos lavadores de roupa, que ganhavam a vida com essa atividade. Um iogue de boa índole se deparou com o filho mais jovem dos dhombis (‘lavadores’), e lhe pediu comida. O dhombi fez oferendas ao iogue, e também ofereceu-se para lavar suas roupas. O iogue então pegou um carvão e perguntou: “Se você lavar este carvão, ele vai ficar limpo?” “A natureza do carvão é ser escuro; a lavagem não o vai embraquecer”, respondeu o filho. “Mesmo assim, você segue limpando as coisas por fora”, disse o iogue. “Caso as máculas dos três venenos internos não sejam purificadas, não faz sentido algum algum vestir roupas limpas por uma lavagem externa.
É preciso lavar as coisas muitas vezes para mantê-las limpas, ainda assim, há instruções que ensinam que lavar apenas uma vez é suficiente, superando o ciclo infindável de lavagem. Eu detenho essas instruções; não seriam algo de valor para você?” “Seriam sim”, ele respondeu.
O iogue então o iniciou em Cakrasamvara. Concedeu instruções, e o abençoou com mantras, mudras e samadhi. Ele meditou por doze anos, purificando seu corpo com mudras, a fala com mantras e as máculas mentais por meio do samadhi. Esta é a essência da instrução que ele recebeu:
Com a água escaldante dos mudras, as máculas do corpo são limpas; com a água das vogais e consoantes, as máculas da fala são purificadas. A união de pai e mãe limpa as máculas da mente.
O dhombi então meditou em seu corpo como mudra, em sua fala como mantra, e sua mente como a união dos estágios de desenvolvimento e consumação, e assim as impurezas de seu corpo, fala e mente foram erradicadas, e ele enfim atingiu o siddhi do mahamudra. A partir desse momento, as roupas se lavavam sozinhas, sem que fosse preciso fazer qualquer esforço. Isso impressionou muito as pessoas e ele ficou famoso como o iogue Dhombipa. Depois de trabalhar para o benefício dos seres por cem anos, ele seguiu para o reino das dakinis.
Traduzido por Padma Dorje em 2023, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson, Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder e Seeing the Sacred in Samsara: An Illustrated Guide to the Eighty-Four Mahasiddhas, de Donald S. Lopez, Jr. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 02/07/24
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