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Rabjyor e a Velha Senhora


Já há muito tempo é costume nos países budistas devotos pais de família convidarem monges eruditos para lerem as escrituras em voz alta em suas casas por um período de dias, semanas ou mais. Esta prática virtuosa ajuda os anfitriões a acumularem méritos, preservar a doutrina, e divulgar os ensinamentos que levam à iluminação. Um grupo de monges pode ficar na casa de um patrono pela noite ou mais tempo, transformando-a num santuário espiritual.

CERTA VEZ, UM MONGE da escola Nyingma (Antiga Tradução) estava sentado em frente ao altar de uma família, lendo em voz alta os sutras mahayana e os tantras dzogchen por vários dias a pedido de seu anfitrião. Porque ele não sabia ler muito bem, ele tropeçava em muitas das palavras contidas nos textos esotéricos. Já que era costume recitar rapidamente (os membros da família não ficavam ouvindo, de qualquer forma), o monge não se preocupou muito com sua dificuldade. Caso errasse, apenas continuava murmurando as escrituras ainda mais rápido.

Depois de alguns dias, a idosa e analfabeta avó da família entrou no recinto onde o monge estava recitando. Com muita dificuldade, ela reverentemente fez três prostrações completas, com o corpo inteiro ao chão, três vezes diante do monge. Então ela ofereceu chá ao lama, sentou no chão e ouviu a leitura.

Depois de algum tempo, o monge parou de recitar de forma a beber um gole de seu quente chá amanteigado. Ele ergueu a xícara de madeira tampada da mesa baixa decorada em baixo relevo que ficava em frente aos grossos tapetes em que estava sentado.

A avó escolheu este momento para falar. "Esta família tem tido a sorte de ouvir os sutras e os tantras recitados nesta sala todos os anos desde que eu era um bebê," ela disse. "Cada ano veneráveis lamas vêm e leem desta mesma compilação que está na tua frente. De onde quer que eu esteja na casa, eu sempre ouço o mesmo nome, 'Rabjyor, Rabjyor," surgindo muitas e muitas vezes, mas tu, estimado monge, nunca pareces dizer o nome do venerável Rabjyor. Quem sabe, talvez, tu não leias tão bem? Ou é apenas esta velha que esta ficando surda?"

O monge, não um dos melhores da estirpe, respondeu suavemente, "Não é nada disso não, cara senhora. Sem problemas. De fato, estamos agora mesmo chegando ao sutra sobre Rabjyor!" E espertamente virando a página, ele simplesmente reiniciou a recitação, entonando o nome de Rabjyor precisamente a cada quatro palavras, para benefício da velha senhora.

A avó sorriu. Balançou a cabeça em aprovação, ela continuou a contar no rosário suas orações, satisfeita por méritos estarem sendo acumulados e pelo fato de tudo no mundo continuar muito bem.



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