Liberando as Criaturinhas
UM VELHO LAMA GOSTAVA de sentar em meditação numa grande pedra lisa de frente a um lago plácido. Porém, toda vez que começava fervorosamente a recitar suas orações e devoções, assim que cruzava as pernas e se aquietava, ele via um inseto lutando desesperadamente para sair da água. De tempos em tempos, ele inclinava seu velho corpo doído e colocava a pequena criatura em um lugar seguro, antes de se aquietar novamente no seu assento de pedra. Assim seguiam suas contemplações, dia após dia...
Seus irmãos monges, dedicados meditadores que também diariamente sentavam solitários nos barrancos e cavernas rochosas daquela região desolada, eventualmente ficaram sabendo que o velho lama dificilmente conseguia ficar parado, mas que de fato ficava a maior parte de suas sessões de meditação salvando insetos do laguinho. Apesar de parecer realmente muito adequado salvar vidas de seres sencientes de qualquer tipo, pequenos ou grandes, alguns deles ocasionalmente perguntavam-se se as meditações do velho monge não poderiam ser muito aperfeiçoadas se ele sentasse em algum outro lugar isolado e livre desse tipo de distração. Um dia eles finalmente mencionaram suas preocupações a ele.
"Não seria de maior benefício sentar em algum outro lugar e meditar profundamente, sem perturbações o dia todo? Desta forma o senhor poderia mais rapidamente atingir a iluminação perfeita, e então poderia libertar todos os seres vivos do oceano da existência condicionada?" um deles perguntou ao velho.
"Pelo menos o senhor talvez pudesse meditar em frente ao lago com os olhos fechados", outro irmão sugeriu.
"Como desenvolver perfeita tranquilidade e profunda concentração adamantina levantando e sentando cem vezes a cada sessão de meditação?" um jovem monge erudito enfaticamente expôs sua opinião, encorajado pelas perguntas mais delicadas dos seus irmãos mais velhos... E assim os argumentos continuaram.
O venerável velho lama ouviu atentamente, sem dizer nada. Quando todos já tinham feito seus discursos, ele curvou-se agradecido e disse, "Estou certo de que minhas meditações poderiam ser mais profundas e recompensadoras se eu ficasse imóvel o dia todo, como vocês colocaram. Mas como pode um velho inútil como eu, que tomou muitas e muitas vezes o voto de dar essa vida (e todas as outras) para servir e liberar aos outros, apenas sentar com os olhos fechados e o coração endurecido, cantando e entoando o mantra altruísta da Grande Compaixão, enquanto bem em frente a meus olhos criaturas desesperadas estão se afogando?"
Para essa simples questão humilde, nenhum dos monges reunidos pôde encontrar uma resposta.
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