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A Última Palavra de Milarepa


Jetsum Milarepa é o mais famoso iogue sábio do Tibete, bem como seu mais amado bardo. Suas Cem Mil Canções de Milarepa, cantadas de improviso novecentos anos atrás para discípulos e seguidores nas remotas e gélidas regiões selvagens dos Himalaias, foram traduzidas em muitas línguas. A pele de Milarepa era azul-esverdeada, pois ele sobreviveu por muitos anos apenas com sopa de urtiga silvestre.

Milarepa é famoso por ter atingido perfeita Buditude desperta em uma única vida através de décadas de meditação solitária em cavernas nas montanhas, vestido somente em togas de algodão branco. Seu exemplo enquanto praticante espiritual tem sido a inspiração para incontáveis gerações de lamas, do século onze até hoje.

O guru de Milarepa foi Marpa o Tradutor, que passou dezessete anos estudando e meditando na Índia e trouxe os ensinamentos Mahamudra (Grande Símbolo) para o Tibete; o discípulo de Milarepa era Gampopa. Gampopa procurou por Milarepa depois de ter sido abençoado por uma visão de um iogue verde que limpava a baba em seu rosto.

A cerveja tibetana, chamada chang, é destilada de cevada fermentada. Em iniciações tântricas, uma copa-de-crânio (um cálice feito de um crânio) consagrada cheia de espíritos alcoólicos é geralmente utilizada simbólicamente para transmitir o elixir da gnosis.

LOGO NA PRIMEIRA VEZ que o monge-médico Gampopa encontrou Milarepa, seu mestre predestinado, Milarepa ofereceu a ele uma copa-de-crânio cheia de chang. Gampopa reclamou que beber álcool era contra seus votos.

Milarepa, o Vajra (Diamante) Risonho, assegurou-o sorrindo que o maior preceito espiritual é obedecer as ordens do mestre. Com isso, Gampopa sem hesitar secou o recipiente; então Milarepa soube que o monge seria seu herdeiro espiritual.

Depois de anos de meditação solitária em uma caverna, alternadas com visitas a Milarepa, Gampopa finalmente completou seu treinamento e estava pronto para deixar seu mestre. Milarepa colocou os dois pés descalços sobre a cabeça de Gampopa como uma bênção.

Gampopa pediu ao iogue cantor pelas instruções finais. Milarepa, porém, apenas disse, "O que é necessário é mais esforço, não mais ensinamentos." E ele nada mais disse.

Gampopa foi-se embora e já tinha cruzado um pequeno córrego quando Milarepa gritou para chamar sua atenção uma última vez. O guru sabia que não veria Gampopa novamente nesta vida.

"Tenho uma instrução secreta muito profunda," disse Milarepa. "É preciosa demais para dar a qualquer um."

Gampopa olhou para trás. Milarepa repentinamente se virou, curvou-se, e puxou sua toga esfarrapada, mostrando nádegas tão calejadas e pustulentas como o casco de um cavalo, endurecidas por tantos longos anos de meditação sentada na pedra nua.

"Esta é minha instrução final, filho do coração!" ele berrou. "Faça!"



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