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21. Shalipa


O iogue dos chacais

Os artistas talentosos pintam coisas tão assombrosas
que ao meramente as fitarmos sentimos medo;
Mas olhe de novo, e repare bem a forma pintada —
Uma imagem irreal refletida é tudo que encontramos.

Shalipa, um trabalhador de casta inferior vivia na cidade de Vighasura próximo a um campo de cremação. À noite os chacais vinham pilhar as cinzas pelos ossos, e seus uivos deixavam o pobre homem apavorado. Todas as noites, sem descanso, eles uivavam, e o medo de Shalipa se tornou uma obsessão. Certo dia um monge passou por sua casa para esmolar comida. Shalipa então se curvou aos pés do monge e lhe ofereceu algo para beber e comer, e então o monge, bastante contente, explicou o mérito dessa generosidade.

“Sua reverência, o Darma que você me oferece em troca é realmente muito maravilhoso. Mas se for possível, não há um ensinamento que me ajude a superar o medo?"

“Do que você tem medo?” perguntou o iogue. “Fora o sofrimento de vida, morte e renascimento, que mais há para temer?”

“O medo dos sofrimentos do samsara é universal,” disse Shalipa. “Todo mundo os têm. Mas moro perto de um campo de cremação e tenho um medo específico dos chacais que infestam o local. Este medo me consome, dia e noite. Se há algum ensinamento que possa destruir este medo, por favor o conceda.”

“Tenho preceitos e um mantra que podem ajudar,” disse o iogue, “Mas em primeiro lugar, você precisa receber a iniciação.”

Shalipa pediu a iniciação e fez oferendas, inclusive do pouco ouro e prata que possuía, como pagamento pela iniciação. Ele recebeu a iniciação e as instruções do “medo que destroi o medo”.

“Para se livrar do medo, medite incessantemente sobre o fato de que todos os sons são idênticos aos úivos de um chacal. Construa uma cabana bem no centro do campo de cremação e medite ali, junto dos chacais.”

Shalipa fez como instruído, e meditou exatamente assimm gradualmente reconhecendo todos os sons como a união de som e vacuidade. Livre do medo de chacais, ele vivenciou o terror autoliberado como destemor cheio de êxtase; depois de meditar por nove anos, as máculas da mente e do corpo desapareceram, e ele atingiu o sidi do Mahamudra. A partir daí ele usava uma pele de chacal sobre os ombros, implicando sua realização de “um só sabor” de todas as experiências, e por isso ficou famoso como Shalipa, o iogue dos chacais. Ele concedeu muitas instruções sobre a inseparabilidade de vacuidade e aparência para aqueles que estavam prontos para receber tais ensinamentos, e enfim, naquele mesmo corpo, ascendeu para o paraíso das Dakinis.


Traduzido por Padma Dorje em 2022, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson e Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 02/07/24

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