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11. Vinapa


O Músico

Após anos de perserseverança e devoção,
dominei os errantes acordes da Vina.
Então encontrei o som jamais tocado
E me livrei da noção de um “eu”.

Vinapa era o filho único do Rei de Gauda, um reino circundado pela Mãe Ganga. Era muito amado por seus pais e pela corte. Oito enfermeiras faziam-lhe todas as vontades, e os músicos da corte vinham acalmá-lo sempre que ficava agitado. Teria essa exposição prematura aos reinos profundos da música alterado seu destino? Enquanto crescia, o príncipe ignorava seu aprendizado de estadista, e assediava os músicos da corte até que concordassem em lhe ensinar a tocar a tambura.

Todas as horas, todos os dias, o príncipe apenas dedilhava as quatro cordas da tambura. Seus dedos nunca pareciam cansar-se de produzir o profundo tom, o som de OM, de seu instrumento. Era tão talentoso que dominou a tambura em pouco tempo, e então aprendeu a tocar a vina de sete cordas. Enquanto ele dedilhava a vina com seu plectro, as cordas adicionais do instrumento vibravam em perfeita simpatia. Enfeitiçado pela intuição feminina desse instrumento, o jovem príncipe não conseguia separar-se dele. Estava completamente obcecado pela vina. Sequer suportava abandoná-la por uns instantes para comer uns poucos grãos de comida.

Mas ele não era um músico comum. Ele era o herdeiro do trono. Quando chegasse a hora, ele seria capaz de guiar o reino com sabedoria e compaixão? Teria ele a habilidade, o interesse, de assim fazer? Seus pais e a corte ficavam cada vez mais preocupados.

Desesperados, eles finalmente chamaram um iogue altamente capacitado chamado Buddhapa na esperança de que ele poderia dissuadir o príncipe de suas inclinações musicais. Ao seu primeiro encontro o jovem príncipe foi profundamente tocado pelas grandes qualidades daquele homem santo. Reconhecendo seu mestre, Vinapa prostrou-se perante o iogue e caminhou em torno dele em círculos de reverência. Então eles sentaram para uma conversa profunda, do coração, sobre vida e morte e tudo que está dentro disso e além disso.

Buddhapa soube imediatamente que o príncipe estava no ponto para o aprendizado espiritual. Em sua conversa ele perguntou ao jovem se ele estava pronto para praticar uma sadhana, a prática que disciplina a mente no caminho da Buditude.

"Minha música é minha sadhana, venerável iogue," respondeu o príncipe. "Nada me importa além de minha vina e do som da tambura. A única sadhana que eu praticaria seria uma que eu pudesse aprender sem abandonar a música."

"Se és tão dedicado à música quanto dizes, então te ensinarei uma sadhana musical," prometeu o guru. Ao que ele iniciou o príncipe com o rito que amansa o fluxo mental imaturo.

"Medita continuamente no som de teu instrumento," Buddhapa instruiu. "Mas enquanto fizeres isto, liberta-te de todas as distinções entre o som que é tocado e o que a mente percebe. Cessa toda interferência com o som. Cessa toda conceptualização. Cessa todo pensamento crítico e julgamento. Contempla somente o puro som".

Por nove anos o príncipe praticou os preceitos que lhe foram ensinados, tempo durante o qual tornou-se um adulto. E enquanto seu corpo crescia, também sua mente e espírito cresciam. Tudo aquilo que estava entre ele e a pura cognição foi apagado da mente da mesma forma que sombras somem perante a clara luz. E esta mesma luz começou a crescer dentro dele como se ele próprio fosse uma preciosa lamparina de manteiga, assim atingindo o estado de mahamudra-siddhi.

Maravilhosos foram os atos que realizou. Ele podia predizer o futuro, ler os pensamentos daqueles a seu redor, e aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Ele tornou-se universalmente renomado. Diz-se que ganhou seu siddhi diretamente do próprio yidam Hevajra.

Sei reino verdadeiro jazia no âmbito espiritual. Durante toda sua longa vida ele ensinou multidões de seres como encontrar alívio das amarras da existência. Quando completou sua tarefa, ele ascendeu em seu próprio corpo ao Paraíso das Dakinis.


Traduzido por Padma Dorje em 1999, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson e Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 02/07/24

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