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HomeBudismoTraduçõesAs Vidas dos 84 Mahasiddhas06. Saraha

O Grande Brâmane

Nunca esqueça Sahaja, o absoluto inato,
Mas busque-o apenas nos lábios do guru.
Perceba que a natureza definitiva da palavra do guru
É levar o corpo além da idade e tornar a mente eterna.

O brâmane Saraha era o filho de uma Dakini, e nasceu no leste da Índia em Roli, uma região da cidade-estado de Rajni. Saraha era um daka, um ser espiritual, e tinha muitos poderes mágicos. Mantendo a lei dos brâmanes durante o dia, ele recebia instruções nos mistérios tântricos de muitos mestres budistas à noite.

Apesar disso, Saraha degustava espíritos alcoólicos, que eram proibidos pela lei dos brâmanes. Eventualmente seus camaradas brâmanes descobriram e ficaram terrivelmente chocados com seu comportamento.

Uma delegação foi enviada ao Rei Ratnapala pedindo que Saraha fosse destituído de sua casta.

"Como tu podes, um grande Rei responsável pela pureza religiosa de seu país, permitir que Saraha, senhor de quinze mil famílias, desonre sua casta embebedando-se? Tu deves excomungá-lo," os puritanos exigiam.

O Rei, porém, era um homem razoável. Ele decidiu investigar o assunto por conta própria e fez uma visita privada a Saraha. Quando ele levantou a acusação da bebida, Saraha disse, "Eu não bebo. Se duvidas de mim, reune os brâmanes e todo o povo que eu provarei."

Perante uma vasta multidão, Saraha anunciou uma série de testes pelas quais passaria de forma a provar sua inocência. Declarando, "Se sou culpado, que minha mão queime até o osso," ele mergulhou a mão numa panela de azeite quente. Para surpresa geral, quando ele retirou a mão, após muitos minutos, ela estava intacta.

"Isto me convence da inocência dele," disse o Rei aos brâmanes. "Estão satisfeitos?"

"O charlatão bebe!" eles berraram.

Ao que Saraha pediu um tacho de cobre derretido. "Se sou culpado", gritou, "que minha boca e garganta sejam terrivelmente queimadas." E ele bebeu o líquido esfumaçante em um gole. Quando abriu sua boca, o povo podia claramente ver a saudável pele rosada.

"Chega desses truques de mágica!" berraram os brâmanes. "Sabemos que ele bebe!"

Saraha então guiou a multidão a um enorme tanque de água. "Que aquele que está certo de sua pureza, que pule neste tanque comigo," Saraha desafiou, "Aquele que afundar é o mentiroso."

Um zelote brâmane abriu caminho pela multidão e ofereceu-se para o teste. Quando ambos pularam no tanque, o brâmane imediatamente afundou.

"Quem ousa me acusar de beber agora?" berrou o gotejante Saraha. "Se a menor dúvida existir, pese a nós dois. Aquele que for mais leve é o culpado." A multidão engasgou, pois o brâmane era o dobro do tamanho de Saraha. Mas quando os dois foram pesados, a escala mostrou que Saraha era muito mais pesado.

Neste ponto, o Rei interpelou. Apontando para Saraha, ele declarou, "Se este venerável ser bebe, então que possa continuar a fazê-lo para sempre." E o rei prostrou-se perante Saraha, e foi seguido por todos os brâmanes, e a multidão reunida.

Saraha começou a cantar três ciclos de canções: uma ao rei, uma à rainha e uma ao povo. Depois de receber a instrução de Saraha, os brâmanes abandonaram suas práticas tradicionais e entraram no caminho do Buda. No tempo devido, o rei, a rainha, e a inteira corte atingiram a buditude. As canções que Saraha cantou tornaram-se conhecidas por todos os cantos como "Os Três Ciclos de Dohas", atingindo grande fama.

Quanto ao próprio Saraha, ele tomou por consorte uma garota de quinze anos de idade e mudou-se para uma terra distante. Com a garota esmolando por suas necessidades diárias, Saraha continuou praticando sua sadhana em isolamento.

Um dia ele disse a ela para cozinhar curry de rabanete para a janta. Porém, enquanto ela cuidadosamente preparava o prato com coalho de leite de búfalo, ele começou a meditar. Ele meditou toda aquela noite, e todo o dia seguinte, e o dia depois deste. Ele continuou meditando por doze longos anos.

Mas no momento que novamente acordou para o mundo exterior, ele berrou à máxima capacidade dos pulmões: "Onde está meu curry de rabanete?"

"Tu sentas em samadhi por doze anos e a primeira coisa que pedes é curry de rabanete?" perguntou sua perplexa consorte dakini.

Penalizado, Saraha decidiu que deveria mudar-se para um eremitério nas montanhas para continuar de forma apropriada sua meditação.

"Se tu acordas do samadhi com um o desejo intacto por curry de rabanete, o pensas que o isolamento das montanhas vai fazer por ti?" perguntou sua consorte. "O mais puro isolamento," ela aconselhou, "é um que te permite escapar dos preconceitos, dos rótulos e conceitos de uma mente estreita e inflexível."

Saraha ouviu cuidadosamente a sabedoria de sua dakini-guru e começou a devotar-se inteiramente a livrar sua mente do pensamento conceptual e na crença na substancialidade da realidade objetiva. No devido tempo, ele começou a experimentar todas as coisas em suas purezas primordiais, eventualmente atingindo a realização suprema do mahamudra. O restante de sua vida foi gasto em ilimitado serviço aos outros. Em suas mortes, Saraha e sua consorte ascenderam ao êxtase do Paraíso das Dakinis.


Traduzido por Padma Dorje em 1999, a partir de Masters of Mahamudra e Legends of the Mahasiddhas: Lives of the Tantric Masters, de Keith Dowman, Buddha's Lions: The Lives of the Eighty-Four Siddhas, de Abhayadatta, traduzido por James B. Robinson e Empowered Masters, de Ulrich Von Schroeder. Por favor envie sugestões e correções para padma.dorje@gmail.com. 13/11/24

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