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Diretrizes de mídia social para quem se supõe aluno do vajrayana

Dzongsar Khyentse Rinpoche usando seu smartphone.

Texto de Dzongsar Khyentse Rinpoche publicado em seu Facebook em 2013.

Se você pensa ou acredita que é um estudante de vajrayana — se isso é verdade ou não é outra questão —, mas enquanto você se considera um praticante de vajrayana, a partir daí é responsabilidade sua proteger essa tradição profunda.

É importante manter o segredo no vajrayana. O vajrayana é chamado de ‘o veículo do mantra secreto’ porque deve ser praticado em segredo. Não é secreto porque há algo a esconder, mas para proteger o praticante das armadilhas e falhas que o ego pode trazer para a prática. Em particular, os praticantes tendem a cair na armadilha do “materialismo espiritual”, em que sua prática se torna apenas mais um símbolo de status para enfeitar o ego e fazer a pessoa se sentir importante, ou para que sinta que faz parte de uma tribo social “legal”, e não realmente domar e transformar sua mente. Quando praticado dessa forma, o caminho do vajrayana se torna pior do que inútil.

Além disso, os ensinamentos do vajrayana são “ocultos” no sentido de que seu significado não é aparente para alguém que não tenha recebido os ensinamentos apropriados. É como uma língua estrangeira. Como algumas das imagens e simbolismos podem parecer estranhos ou até violentos para os não iniciados, é geralmente recomendado mantê-los ocultos de forma que não afastem praticantes iniciantes, que podem vir a desenvolver visões equivocadas sobre o caminho budista em geral e o caminho do vajrayana em particular.

Ao postar nas redes sociais, lembre-se de que você não está postando apenas ler a si próprio com prazer, mas está postando para o mundo inteiro, que provavelmente não partilha seu fascínio por fotos excêntricas, nem sua adoração peculiar e fantasias com relação a certas personalidades que você chama de guru.

Dado isso, aqui estão algumas sugestões que ofereço aos meus colegas pretensos estudantes de vajrayana sobre como podem se proteger — tanto evitando constrangimentos quanto protegendo sua própria prática do darma — e também protegendo a profunda tradição vajrayana:

1. Mantenha o segredo do vajrayana (isso inclui o segredo sobre seu guru, sua prática, imagens tântricas, iniciações1A mais palavra comum em português para traduzir wang, isto é, empowerment, que foi o que Rinpoche utilizou aqui. que tenha recebido, ensinamentos que assistiu, etc.)

Não poste imagens tântricas: Se você acha que postar imagens provocativas do tantra (como imagens de divindades com vários braços, cabeças de animais, aquelas em união e divindades iradas) faz de você alguém importante, provavelmente você não entende o significado delas.

Não poste mantras e sílabas-semente: Se você acha que mantras e sílabas-semente devem ser postados no Facebook como um apoio para melhorar o humor e o autodesenvolvimento, talvez um novo corte de cabelo ou maquiagem seja mais efetivo.

Não fale sobre suas iniciações: Se você acha que imagens da sua iniciação vajrayana de fim de semana merecem ser postadas ao lado das fotos do seu gato no Facebook, deveria mandar seu gato para o Nepal para ser entronizado. A menos que tenha permissão do professor, não poste fotos, vídeos ou gravações de áudio de iniciações vajrayana, ensinamentos ou mantras.

Não fale sobre ensinamentos profundos/secretos que você possa ter recebido: Algumas pessoas parecem achar chique apregoar palavras como “Dzogchen” e “Mahamudra” na própria boca. Se você recebeu instruções profundas, é bom seguir essas instruções e guardá-las para si.

2. Evite ceder às tentações do materialismo espiritual e usar o darma a serviço do ego (não tente exibir seu guru, seu entendimento, sua prática etc. Da mesma forma, não fale mal de outros praticantes ou caminhos.)

Não compartilhe suas experiências e supostas realizações: Se você acha que declarar o que pensa ter realizado é valioso, pode ser que esteja se ocupando de fomentar o autoengano. Tentar impressionar os outros com sua prática não faz parte da prática. Tente ser autêntico e humilde. Ninguém se importa com suas experiências de meditação, mesmo que incluam visões de budas, unicórnios ou arco-íris. Se você acha que está livre da autoengano, dê um passo a frente e pense de novo.

Não se vanglorie do seu guru: Não importa o quanto você ache que seu guru é grandioso, provavelmente será melhor ser discreto com essa devoção. Lembre-se de que ser budista não é participar de um culto. Se você acha que seu guru é melhor que o de outra pessoa, provavelmente também acha que sua equanimidade e percepção pura são melhores que as de outra pessoa.

Não tente compartilhar sua suposta sabedoria: Se você acha que receber ensinamentos profundos dá licença para proclamá-los, isto provavelmente apenas revelará sua ignorância. Antes de “compartilhar” uma citação de Buda ou de qualquer um dos seus professores, pare um momento para pensar se eles realmente disseram essas palavras e a que público elas se dirigiam.

Não confunda o Budismo com ideias não budistas: Não importa o quanto você se inspire em arco-íris e orbes, e o quanto esteja convencido sobre o fim do mundo, procure não misturar suas próprias fantasias/idiossincrasias com o Budismo.

Seja respeitoso com os outros: Sem o theravada e o mahayana como base, não haveria vajrayana. Seria completamente tolo para os praticantes do vajrayana menosprezar ou desprezar o theravada e o mahayana. Se você acha que atacar outros budistas vai melhorar o Budismo, faça um favor ao Budismo, alveje seu próprio ego e seus próprios preconceitos em vez disso.

Não crie desarmonia: Tente ser aquele que traz harmonia à comunidade da sangha com suas conversas online, em vez de causar mais problemas e disputas.

Permaneça sempre atento à sua motivação: Por favor, não tente exibir comportamentos de “sabedoria louca” online, apenas inspire os outros a terem um bom coração. Se você acha que está postando algo por compaixão, tente primeiro garantir que não está causando nenhum dano. Sempre que você não conseguir se livrar da vontade de postar algo, certifique-se de que isso será benéfico a quem lê e ao darma.

Traduzido por Padma Dorje em 2024.

Livros e links de Dzongsar Khyentse Rinpoche, texto em tzal.org


1. ^ A mais palavra comum em português para traduzir wang, isto é, empowerment, que foi o que Rinpoche utilizou aqui.

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