Nome e Fama
NA IDADE MADURA, JAMYANG KHYENTSE Wangpo resolveu nunca mais sair de seu quarto. Ele iria permanecer seus restantes quarenta anos meditando e rezando em retiro. "Jamais cruzarei a porta dessa casa", ele disse.
Depois de tomar este voto, Khyentse deu os sapatos a seus criados. Eles foram deixados num rio próximo.
Uma manhã, alguns anos depois, o clarividente Mestre Manjusri inesperadamente instruiu seus criados a receber quem quer que quisesse visitá-lo.
Mais tarde, naquele dia, um vagabundo anônimo apareceu. Ele foi direto para a ala pessoal de Khyentse Rinpoche e largou sua surrada mochila feita à mão no canto da cozinha. "Vim ver Ngédon. Onde está Ngédon?", ele perguntou.
Os servos imediatamente ofenderam-se. Esqueceram-se completamente das instruções do mestre. Quem era esse vagabundo maltrapilho para insultar seu glorioso mestre chamando-o pelo seu nome de família, Ngédon?
Ordenaram que o mendigo se fosse. "O mestre está em meditação profunda", disseram ao mendigo. "Talvez outra hora!"
O mendigo falou bruscamente: "Ele realmente é tão importante agora! Quando éramos jovens, eu dividia meu queijo com ele, e agora nem consigo passar por seus criados! Não tenho tempo a perder". E começou a partir.
Repentinamente os servos lembraram das instruções incomuns. Apressadamente, perguntaram o nome do mendigo. O impaciente Patrul, já de saída, gritou, "Orgyen" - o nome de Padmasambava (bem como seu próprio) - sobre seu ombro e desapareceu nas colinas.
Naquela noite, Khyentse Rinpoche perguntou se alguém havia aparecido para visitá-lo. Um criado respondeu: "Só um velho vagabundo enjoado, que insultou seu nome. Ele grandiosamente chamou a si próprio Orgyen e não quis esperar".
"O quê?!" exclamou Khyentse Rinpoche. "Não o deixaram entrar? Aquele era meu irmão do Darma Patrul Rinpoche, Orgyen Chokyi Wangpo. Encontrem-no e tragam-no aqui."
Os criados humilhados, finalmente, depois de uma longa e cansativa busca, encontraram Patrul acampado na floresta bem longe do vale. Prostrando-se, eles muito se desculparam e convidaram-no para ser o convidado de honra de seu venerável mestre. Gargalhando, Patrul respondeu que estava ocupado demais meditando para atender convites sociais.
Aquele foi o último contato direto entre os lendários parceiros. Apesar disso, um sempre sabia das atividades do outro, e frequentemente presenteavam seus discípulos com histórias e piadas a respeito um do outro.