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Grãos de Arroz


É costume no Tibete esculpir mantras em pedras. Estas são então empilhadas em locais especialmente escolhidos — os quais podem ser considerados como pontos de acupuntura da terra — para encorajar a paz mundial tanto como para servir de benção para quem quer, homem ou animal, que se defronte com elas. São conhecidas como pedras mani, já que o mantra mais frequentemente utilizado é o da Grande Compaixão, Om Mani Padmé Hung.

Para abençoar e consagrar, os lamas frequentemente sussurram orações e sopram com seu hálito sagrado sobre arroz cru tingido de açafrão ou de cores de arco-íris, o qual é então jogado sobre o objeto da benção, seja animado ou inanimado. Através da perfeita visualização pelo mestre de cada grão transformando-se em o que quer que os seres sencientes queiram ou precisem, grandes benefícios são assegurados.

O recente líder Nyingmapa (Escola da Tradução Antiga), Sua Santidade Dudjom Rinpoche, certa vez abençoou um mosteiro novo em Mysore, no sul da Índia, doente de sua cama em Kalimpong. No momento combinado, quando a consagração pública muito esperada estava para acontecer, Sua Santidade jogou arroz cor-de-arco-íris em Kalimpong, e grãos cor-de-arco-íris de arroz caíram no recém construído e longínquo Mysore — realmente uma benção milagrosa.

PATRUL RINPOCHE GERALMENTE VIAJAVA anônimo. Quando reconheciam sua grandiosa espiritualidade, as pessoas espontaneamente requisitavam bênçãos e ensinamentos. Garantindo o que quer que fosse preciso, ele geralmente continuava solitário, deixando para trás quaisquer oferendas que tivesse recebido.

Jamyang Khyentse veio a perceber este comportamento desapegado. Mandou uma mensagem a Patrul: "Por que te desfazes do que teus discípulos e patronos te dão? Não seria melhor utilizar essa riqueza para projetos virtuosos?".

Patrul tinha o maior respeito pelo Mestre Manjusri, a quem reconhecia como um Buda vivo. Portanto, dali em diante, Patrul ofereceu aos mendigos o que quer que acumulasse. Ele também utilizava os presentes para patrocinar a escultura do mantra Om Mani Padmé Hung em pedras.

Finalmente aconteceu que, de milhares dessas pedras, formou-se um longo muro. Deleitado, Patrul mandou uma mensagem a Khyentse Rinpoche: Quem sabe poderias consagrar a parede mani? Uma mensagem retornou, dizendo que Jamyang Khyentse abençoaria a grande parede numa data auspiciosa muito próxima.

Todos regozijaram-se. O Mestre Manjusri estava vindo! Um festival religioso foi planejado naquele dia.

No dia combinado, todos reuniram-se em antecipação pela chegada de Khyentse Rinpoche. Patrul advertiu para não haver desapontamento caso o grande mestre não aparecesse em pessoa, já que ele estava em retiro há dez dias de viagem. Além disso, ele explicou: "Jamyang Khyentse pode consagrar essas pedras mani a distância tão bem quanto se estivesse aqui em pessoa, através do poder de suas orações e bênçãos. O que quer que aconteça, não se surpreendam".

Imediatamente, uma chuva começou a cair. Ela jorrava triunfante sobre a grande pilha de pedras, fluindo através das incontáveis inscrições. Arco-íris brilhantes enfeitavam o céu. Flores divinas e arroz cor de açafrão caíram sobre as pedras tanto quanto na assembleia reunida, enquanto, na hora combinada, a consagração extraordinária acontecia, apesar do Mestre Manjusri não ser visto em lugar algum.

Patrul Rinpoche bateu palmas em deleite. Curvou-se na direção da longínqua residência de Khyentse Rinpoche e — sem nenhuma palavra — continuou seu caminho humilde e solitário.

Cada um que comeu um só grão daquele arroz milagroso ou uma só das suculentas flores, mais tarde, renasceu numa esfera celestial, para finalmente atingir a liberação.




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