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Codependência de Todos os Objetos


1. Objeto e observador dependem um do outro.
1.1. Um objeto sem um observador não pode ser denominado objeto. Da mesma forma, quando nos referimos a algo que poderia existir sem um observador, neste momento passamos a observar exatamente este objeto.
1.2. Algo que não fosse um objeto de um observador não possuiria características particulares. Por exemplo, um início e um fim espacial ou temporal, uma localização ou quaisquer qualidades ou atributos.
2. Nada existe independente de alguma outra coisa.
2.1. O sentido da palavra "existir" é codependência.
2.2. Se algo independente pudesse existir, seria dependente de sua existência. As palavras "existência" e "independência" contradizem-se.
3. Nossa operação usual dos sentidos e do raciocínio opera na ignorância disto. Este tipo peculiar de ignorância definimos como "delusão".
3.1. Este não é um erro filosófico, ou apenas filosófico, é a própria base de nossa operação cognitiva, antes do processo intelectual.
3.2. Cognição e delusão são sinônimos. Tratamos os objetos como se fossem independentes, porque os experimentamos como independentes.
3. 3. Os experimentamos como independentes por liberdade.
3. 4. Por liberdade, abdicamos da gama completa de possibilidades para experimentar o particular.
3.4.1. Por "gama completa de possibilidades" ou "liberdade" não nos referimos a um objeto que exista independentemente, mas sim a própria ausência de existência independente – nem mesmo ela existe de forma independente.
3.4.2. A liberdade está até mesmo livre do aprisionamento a existência ou inexistência.
3. 5. Porém, enquanto experimentamos o particular, perdemos a gama completa de possibilidades. Esquecemos a liberdade mesmo que ela nunca esteja ausente, assim não a vivenciamos.
3.6. Disso advém insatisfação.
4. O mundo e todos os seus conteúdos são produzidos por este processo.
4.1. Quando alguém pergunta sobre o início ou fim de tudo, está tratando de um objeto de sua cognição. Como tal, o início é a delusão, e o fim é a delusão. A liberdade não tem início ou fim.
4.2. O mundo surge como um objeto de acordo com padrões acumulados por infindáveis delusões. A percepção de tempo, espaço, corpo, sentidos e consciência surge também através destes padrões.
4.2.1. Ao entrarmos em contato com os objetos (ex. estas palavras), isto nos assegura dentro de um contexto no mundo. Confirmamos como verdadeira a falsa existência independente dos objetos e os objetos confirmam como verdadeira nossa própria falsa existência independente.
4.2.2. Ao tentarmos sustentar como verdadeira a falsa existência independente do eu e do mundo, ansiamos por uma estrutura. Esta estrutura surge como um sentido de materialidade cada vez mais denso (cada vez mais restrito espacial-temporalmente, cada vez mais particular), e através de referências simbólicas, tais como a linguagem, bem como pelos sentidos e suas extensões (microscópios, detectores de outras faixas de radiação etc.).
4.2.3. Assim surgem todas as justificativas e a ciência.
4.2.4. Estas estruturas são recursos válidos em seus âmbitos, e o ilimitado não pode ser maculado por elas. Elas não são a fonte da insatisfação. Esta surge apenas quando atribuímos uma qualidade falsa a elas, isto é, quando acreditamos que referem-se a algo como objetos independentes ou à liberdade, ou que sejam definitivas ou absolutas, e não apenas modelos válidos em âmbitos particulares.
4. 3. Quando reificamos a existência do mundo e da identidade como inerentes, operamos automaticamente em meio a este processo, seguindo os impulsos de acordo com as paisagens, e incessantemente construindo estruturas para defendê-las.
4.3.1. Por "paisagens" nos referimos setores particulares do que chamamos "mundo", inseparáveis de uma identidade particular (embora usualmente não nos apercebamos desta inseparatividade). Por exemplo, quando alguém nos irrita por algo que fez, vivenciamos uma paisagem particular dentro do mundo, que é um tanto geral, mas ainda assim específico, de uma categoria completamente diferente da gama completa de possibilidades. O mundo é algo abstrato, a paisagem é algo que nos afeta diretamente.
4.3.2. Delusão, impulsos e defesas são inseparáveis. A delusão tem uma característica passiva, os impulsos uma característica de inquietação e ansiedade, e as defesas são beligerantes.
4. 4. Assim, ao sustentar o mundo e a identidade, plenos de insatisfação, geramos cansaço, ansiedade e desconforto.
5. Tudo que tem um começo, tem um fim.
5.1. Toda a possibilidade que particularmente se sobressai em termos da gama completa de possibilidades é desgastada por todas as outras possibilidades que a permanecem corroendo e invadindo.
5. 2. Desta forma, além da insatisfação, do esforço, ansiedade e defesa incessantes, é desde o princípio um jogo perdido.
5.3. Ainda assim, a única coisa ameaçada é a delusão.
5. 4. A liberdade revela-se naturalmente, e nunca esteve ausente.
5. 5. Assim, temos que rir quando acreditamos em objetos externos, temos que rir da morte, e especialmente temos que rir da identidade.
5. 6. Um mundo externo seria sério demais.
Aquele que por longos quatro kalpas viveu como uma minhoca escreveu isto sem pensar muito, como uma tentativa quase certamente vã de explicar a ausência de existência inerente a um estiloso amigo.




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