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A Escritura da Sabedoria Transcendental é Transmitida


Na tradição Budista, a "linhagem sussurrada" é um dos principais meios de preservar a transmissão contínua da chama da iluminação que está além do nascimento e da morte. O Sutra Prajna Paramita, a escritura da Sabedoria Transcedental, é um dos mais essenciais textos mahayana.

O venerável Kangyur Rinpoche foi um mestre de dzogchen nascido em Riwoché no leste do Tibete logo antes da virada do século. Ele recebeu a transmissão completa dos sutras e tantras de muitos dos grandes professores de seu tempo, e passou muitos anos meditando em retiro. Um autor e descobridor de tesouros, ele deu muitos ensinamentos, morrendo em 1975 no mosteiro que construiu em Darjeeling.

CERTA VEZ O JOVEN KANGYUR RINPOCHE e um amigo ouviram do mestre da virada do século, Miphan Rinpoche sobre um siddha ou adepto imortal, que tinha transcendido completamente este mundo e que vagava pelas montanhas como um animal selvagem. Dizia-se que este mestre de louca sabedoria havia recebido a transmissão direta, única e intacta do longo Sutra Prajna Paramita diretamente da Rainha Tibetana Yeshe Tsogyal, que por sua vez havia recebido-a do próprio Guru Padmasambava em pessoa. Nenhuma pessoa viva poderia dizer qual a idade do siddha; pelo que todos podiam lembrar, ele sempre era velho!

Os dois despreocupados jovens iogues determinam-se a receber a preciosa transmissão oral diretamente do próprio siddha, não importando o que teriam que fazer para encontrá-lo. Então eles seguiram pelas montanhas, carregando provisões básicas e cantando alegremente.

Por semanas os jovens caminharam pelo longínqua vastidão, procurando o siddha. Um dia eles o viram, galopando de quatro entre uma manada de antílopes do Himalaia. Ele era o ser humano mais peludo que eles já haviam visto!

Eles estam prontos para qualquer coisa - ainda assim, a visão deixou os jovens pasmos. Seguindo a manada, eles localizaram o adepto imortal. Ele tentou escapar, desaparecendo na abertura semi-oculta de uma caverna.

Destemidos, os iogues colocaram-se diante da caverna, respeitosamente requisitando ensinamentos e convidando-o a sair. O siddha, porém, não reapareceu. Os lamas fizeram inúmeros pedidos, ofereceram prostrações e orações, cantaram lindas canções de convite e louvor, e invocaram a deidade Prajna Paramita, a personificação da própria vacuidade, a infinita abertura da realidade absoluta.

Então Lama Kangyur e seu amigo começaram a oferecer um banquete vajra. Quando os iluminados, os detentores da linhagem, dakas e dakinis foram invocados e convidados a partilhar da oferenda, o divino homem louco - como se fosse um deles - foi forçado a sair.

"Como se chama?" eles perguntaram. "Como se chama?" ele repetiu, piscando os olhos. "Quantos anos tu tens?" os lamas queriam saber. "Quantos anos tu tens?" o siddha respondeu.

Ele apenas repetia seus comentários. Fora isto, o siddha nú de olhos brilhantes mantinha silêncio. Os lamas ofereceram a ele o elixir da gnosis, utilizando uma copa de crânio cheia de vinho de cevada, e cantaram canções espontâneas de realização. Finalmente o exausto siddha começou a cantar.

Primeiro ele cantou que não havia falado linguagem humana por mais de uma década; não haviam ensinamentos nele ou fora dele, ele cantou. Repentinamente os dois lamas emocionaram-se de alegria e seu cabelo arrepiou, pois eles reconheceram os versos de abertura do glorioso Sutra Prajna Paramita vertendo como uma cachoeira dos lábios do iogue louco. Ele seguiu ininterruptamente por horas, até que alcançou o fim do longo texto.

Como se acordando de um transe, o siddha piscou os olhos. Surpreso, ele saltou e seguiu galopando pelas montanhas, reunindo-se ao rebanho novamente. Os dois lamas retornaram ao mundo humano e espalharam a transmissão.

O nome daquele siddha, Samma Drubchen, até hoje comove os corações a cantar. Dizem que ainda está vivo no Tibete.




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