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1.2. Adaptações culturais


Qual a visão budista a respeito da culpa?

Vou assumir que você está falando do sentimento de culpa, não de uma noção meio que jurídica de culpabilidade — de apontar responsabilidade.

No caso do sentimento de culpa, ele é totalmente desnecessário. Alguns professores budistas falam em dois problemas principais em seus alunos ocidentais, não tão comuns em asiáticos: baixa autoestima e sentimento de culpa — que podem estar vinculados um ao outro. Então são desafios novos para professores orientais lidando com alunos ocidentais.

O que a pessoa mesma pode fazer é refletir na natureza das causas e condições, na sua ignorância de causas e condições (se ela soubesse que seria assim, ela não teria agido), e assim usar isso como motivador para grande compaixão por todos aqueles que agem motivados pelas aflições mentais, causadas pela ignorância. Ao gerar essa compaixão, ela se inclui juntamente com os outros.

Por que aqui no Brasil não é tão comum os grupos budistas usarem músicas letradas em português? Pergunto pois acho que toca muito no interior das pessoas algumas músicas das tradições religiosas cristãs e sinto falta disso.

Falta de pessoas capazes no sentido prático, liricista e musicista, que tenham realização e sejam autênticos detentores de uma linhagem. Vai levar uns 200 anos ao menos, e a forma musical dificilmente será popular, pelo menos na tradição tibetana ou no zen, onde a formalidade na sala de prática é essencial.

Porque recitar mantras em tibetano? Não seria melhor recitar uma tradução? Entender o que está sendo dito não é importante?

Não existem mantras em tibetano. Os mantras não foram traduzidos para o tibetano. Os mantras são em sânscrito, e cada sílaba tem uma longa explicação, tornando uma tradução impossível. Assim os mantras são explicados, mas não traduzidos.

Já as práticas de sadhana muitas vezes são feitas em tibetano (exceto os mantras, que seguem em sânscrito) porque o tibetano daqueles textos em particular está impregnado das bênçãos dos praticantes do passado. Além disso o tibetano é muito mais conciso do que o português, e existem questões métricas e ligadas aos instrumentos musicais que tornam difícil uma adaptação. Mas é muito importante saber o que se está recitando, por isso é fornecida uma tradução. A pessoa vai fazer essas práticas todos os dias até o fim da vida, então ela pode ocasionalmente estudar e relembrar em português e no mais das vezes recitar em tibetano. Práticas sem métricas, feitas individualmente, podem ser feitas em português sem prejuízo.

Com o tempo, quando muitos falantes do português atingirem a realização, os textos, métricas e músicas vão finalmente poder ser adaptados fielmente para o português. Isso deve levar um ou dois séculos.

Estava lendo o "Livro Tibetano do Viver e do Morrer" de Sogyal Rinpoche, mas achei que algumas coisas são muito enraizadas na própria cultura do Tibete, e complicadas de se entender nesse mundo ocidental de hoje. Que interpretação posso fazer?

Num período de transição, quando o budismo ainda não se estabeleceu bem na nova cultura, temos que ter paciência, e até mesmo incorporar certos elementos da cultura original.

Eventualmente, depois de um par de séculos, possivelmente o enraizamento é suficiente para a questão cultural não ser um problema.

Eu mesmo, como não me sinto particularmente brasileiro, tendo desde criança vivido um mundo "globalizado" — ou essencialmente norte-americano através da TV — não tenho nenhum apreço a nenhuma cultura particular. Assim, quando alguma tibetanice me incomoda, eu só lembro de tantas coisas que me incomodam na brasileirice, na norte-americanice, na cultura global moderna como ela é, e isso naturalmente faz a paciência surgir, e a abertura para eu me engajar, ainda que ludicamente, nas particularidades de uma cultura alienígena.

Que calendário os budistas usam?

Vários. Só no Tibete uns três.

Que língua o Buda falava?

Um dialeto próximo do páli, algumas vezes chamado de proto-páli.

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